Quando há um desequilíbrio no ambiente, quase sempre provocado por ação ou pela inércia dos homens, as consequências podem ser inconvenientes.
Estávamos recentemente, eu e meus filhos, numa pracinha da Zona Sul quando observamos cena curiosa, embora corriqueira em nossa cidade: uma senhora alimentando os pombos que habitavam o local. O bando era muito grande e, vez por outra, aves mais audazes chegavam a pousar nos ombros e até na cabeça da munícipe. Os gatos que lá existem, de tão bem nutridos pelos moradores do bairro, apenas olhavam refestelados para os pombos sem nenhuma hostilidade esboçar.
Claro que a cidadã – e outras tantas pessoas – fazem isso por amor aos animais, mas aqui se nota um problemão, pois se praticamente não há inimigos naturais para as aves que frequentam a praça e se elas recebem generosa oferta de alimentos, a tendência é que sua população cresça desenfreadamente. Em ambientes urbanos e condições propícias, observam-se de 4 a 5 gerações por ano.
Columba livia é uma espécie exótica, não originária do continente americano. Os primeiros relatos dessa ave, que veio da Europa acompanhando as tripulações dos navios, foram registrados em 1606. Na bibliografia há indícios de que as aves foram trazidas ao Brasil, no início do século XIX, pela família real portuguesa. Não tiveram dificuldade em procriar por aqui e hoje são consideradas pragas em diversas cidades.
Várias zoonoses podem ser transmitidas pelos pombos, mas a inalação das fezes secas deles, que são carreadas como poeira pelo ar, são capazes de provocar doenças graves, tais como a Criptococose, a Histoplasmose e a Clamidiose. Vale ressaltar que cada pombo produz cerca de 2,5 kg de fezes por ano!
Os pombos são protegidos pela Lei nº 9605/98, que os considera como animais domesticados. Qualquer ação de controle que provoque a morte, danos físicos, maus tratos e apreensão é passível de pena de reclusão inafiançável de até 5 anos. O controle de sua população é feito de várias maneiras. Segundo a médica veterinária Vânia de Fátima Plaza Nunes, em artigo publicado em 2003 sob o título “Pombos urbanos: o desafio de controle”, as ações possíveis são agrupadas em categorias, quais sejam:
De baixo impacto: inclinação da superfície de pouso; uso de estruturas que impeçam ou desestabilizem o pouso; emprego de espantalhos; emprego de refletores luminosos; emprego de aves de rapina; equipamentos sonoros de ultrassom; tiros de ar comprimido.
De baixo impacto e risco a outrem: sonorizadores diversos; fogos de artifício; gel irritante de contato; cercas eletrificadas; armadilhas para captura; uso de anticoncepcional (quimioesterelizante à base de hidrocloro).
Medidas proibidas: uso de arma de fogo; envenenamento; captura e soltura em área aleatória.
Medidas duráveis: vedação de espaços ou vãos; uso de abrigos controlados.
Medidas complementares: destinação de resíduos em geral; controle de fontes alternativas de fornecimento voluntário de alimento; controle de ectoparasitos; limpeza e desinfecção dos locais de abrigo; educação, orientação e esclarecimento da população.
Muito boa a postagem!! Eu fiz uma palestra de educação continuada para os agentes comunitários e para equipe técnica e fiquei surpresa de como a maioria das pessoas nem imaginam como pode ser terrível alimentar e conviver com a super população dessas aves. As pessoas realmente não sabem sobre as doenças transmitidas por esses animais tão bonitinhos.