O paraíso das balas “perdidas”

Na semana que termina, vivenciamos, aqui no Estado do Rio de Janeiro, pelo menos duas tragédias – que alguns ainda denominam fatalidades – relacionadas às tais balas “perdidas”. Infelizmente isso não é novidade para nós. Além da revolta, resta-nos lamentar profundamente pela morte de um idoso cadeirante, que se recuperava de dois acidentes vasculares cerebrais e se dirigia ao médico, e de uma criança de oito anos que iria participar de um treino de futebol. Notem: ambas as pessoas pertenciam a faixas etárias que a sociedade como um todo deveria justamente prestar mais cuidado e proteção.

Após isso, fico pensando se saber de onde partiram os tiros fatais, se das forças policiais ou dos bandidos, é mesmo relevante. Duas vidas se foram e nada fará com que voltem. Famílias estão abaladas, traumatizadas, e muito provavelmente, tendo em vista a (in)Justiça que nos permeia, perderão a esperança de ver alguém pagar duramente pelos assassinatos. Se algum infeliz for preso, com a tal progressão de pena e outras benesses garantidas por Lei (que os nossos representantes políticos criam), certamente ficará atrás das grades por tempo bem menor do que o merecido.

Mais triste é perceber, pelas constantes matérias jornalísticas que acompanham os casos, que nenhuma autoridade do Poder Público foi às casas dos parentes para prestar qualquer tipo de solidariedade. E uma pergunta que sempre fazemos nessas pesarosas situações: cadê os tão famosos direitos humanos? Igualmente não deram as caras. É, vamos muito mal…

E não há solução mágica que nos livre dessa insegurança, nos seus mais variados aspectos, mas sim muito trabalho, seriedade e nível de corrupção o mais próximo possível do zero absoluto. As recentes estatísticas divulgadas pelo Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro mostram que no mês de agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado, as ocorrências que mais aumentaram foram os homicídios dolosos (quando há intenção de matar), roubos de veículos, roubos de celulares, roubos a comércios e roubos em coletivos. Estes últimos, campeões, com aumento de 82,3%. E as balas? Continuam perdidas, pelo menos nessas estatísticas governamentais.

Por aqui a Secretaria de Segurança lançou uma estratégia interessante, chamada Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), que atualmente, devido a escandalosas ações criminosas dela própria, a mais gritante na Rocinha, está perdendo com alguma rapidez a credibilidade. Fora os inaceitáveis deslizes ilegais, o modus operandi é mais ou menos o seguinte: os traficantes e toda a corja de marginais são previamente avisados pela polícia quando e em qual comunidade favelada uma UPP dessas será instalada, tendo com isso oportunidade caridosa de se mudarem tranquilamente e barbarizarem noutro lugar. Tudo numa boa! Os meliantes que ficam aparentemente se comprometem com algum tipo de armistício e continuam vendendo seu bagulho sem dar muita bandeira.

Não conheço praticamente nada do trabalho deles, mas devo concordar com trecho de uma música da banda Inocentes, que diz mais ou menos o seguinte: Pátria Amada, idolatrada, salve, salve-se quem puder!!!

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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Uma resposta para O paraíso das balas “perdidas”

  1. Mauro Blanco disse:

    Em complemento à postagem acima, é importante enaltecer a bravura de um policial militar, o Sgt. Alexandre Rodrigues de Oliveira, que, no cumprimento de seu dever, foi morto procurando impedir a tentativa de invasão ao Fórum de Bangu, onde o menino Kayo da Silva Costa foi, igualmente, assassinado. Há exemplares profissionais na PMERJ, sem dúvida, mas a impressão que nós, cidadãos cariocas, temos é que esses ficam cada vez mais acuados com o avanço da neoplásica banda podre da Corporação.

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