A montagem contida na imagem desta postagem foi feita recentemente com meu celular, em duas oportunidades, ambas na Zona Oeste da Cidade do Rio de Janeiro. Como me desloco amiúde pela famosa e quase sempre engarrafada (e mal tratada) Avenida Brasil, esse tipo de cena, a ocultação da identificação na placa dos automóveis, é bem comum. Folhas de amendoeira, pedaços de papel, fios, fita isolante… já vi de tudo nessa prática de “camuflagem” que visa burlar a fiscalização.
Diga-se de passagem, a multa para quem comete esse tipo de infração, considerada gravíssima, é de R$ 293,00 e sete pontos na carteira de habilitação. O condutor também corre o risco de responder a processo criminal (Código Penal, Art. 311), com pena que pode chegar a seis anos de cadeia.
E em nosso país, onde a Lei de Gérson prepondera em muitas ocasiões, essa é somente mais uma sacada de quem se considera hors concours no quesito esperteza. Ora, para que levar uma multa por excesso de velocidade se o cidadão pode dar um “jeitinho”? Parafraseando o craque Gérson de Oliveira Nunes, o “Canhotinha de Ouro”, naquela famosa pergunta que ele fazia no comercial dos cigarros Vila Rica: Não fará mal a ninguém, certo?
A questão assume contornos mais sérios – muito mais – quando extrapolamos as placas e passamos a verificar o cotidiano das pessoas. Não encontrei referência mais atual, mas fiquei espantado com uma pesquisa feita em 2016 pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, publicada na Revista Época, enfocando o “índice de percepção do cumprimento da lei”. Seguem algumas das pequenas corrupções que a pesquisa identificou, já naquela época, nos entrevistados:
– Pagamento indevido para conseguir a carteira de motorista;
– “Gato” para desbloquear sinais de TV a cabo (nos medidores de consumo de água e energia elétrica isso também ocorre com frequência);
– Falsificação de contracheques de clientes para dar uma “ajudinha” no financiamento de casa própria;
– Falsificação de assinatura de genitores falecidos, com data retroativa, para não ter de fazer inventário;
– Falsificação de carteirinha da faculdade para continuar pagando meia-entrada em eventos… E por aí vai.
A pesquisa constatou que 81% das pessoas entrevistadas afirmaram que, sempre que possível, escolhem trampolinar as normas ao invés de segui-las. Da mesma forma, 76% acreditam que é fácil desobedecer às leis. Como em nossa “Democracia” os compatriotas somos obrigados a votar, não é de se estranhar que os nossos representantes políticos sigam na mesma linha antiética, indo muito além tendo em vista as facilidades e as oportunidades que surgem (lembrando que a ocasião faz o ladrão). Depois, todos reclamamos com veemência; nas Redes Sociais, claro.
Termino meu texto com dois exemplos péssimos, perpetrados por Guardas Municipais aqui do Rio neste mês, praticamente com um dia de intervalo entre uma corrupção e outra. No primeiro caso, o Agente Público é filmado recebendo suborno em Copacabana. Já no segundo, uma guarda solicitou, no bairro de Campo Grande, propina de R$ 500,00 para liberar um carro rebocado. A solicitação foi gravada pela vítima da tentativa de extorsão. Vergonhoso.
O carioca em sua maioria gosta de driblar as leis e consegue dar um jeitinho em tudo.
Infelizmente, Daniel, é uma triste realidade. Difícil um país avançar assim, com esse tipo de mentalidade. Vide os japoneses, por exemplo. Sinto até vergonha quando recebo vídeos mostrando a organização e, sobretudo, a educação daquela gente. Ontem mesmo – e postarei aqui a imagem – fotografei outra situação irregular em um veículo, desta vez a serviço do… DETRAN/RJ. Quando o Poder Público não dá o bom exemplo, o que exigir da população?
Se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.
(Jorge Ben Jor)
Excelente, Luiz!!!