Exército Brasileiro

Prestes a concluir o bacharelado em Medicina Veterinária, em 1990, vislumbrei um cartaz no Instituto de Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) falando sobre a possibilidade de ingressar no Exército Brasileiro como Oficial Temporário da área de Saúde. Inscrevi-me e aguardei ser convocado, embora não soubesse, de imediato, para qual Organização Militar de Saúde (OMS) seria encaminhado.

Cumpri uma etapa de adaptação na Vila Militar, no 21º Batalhão Logístico, e, posteriormente e para minha grata surpresa, designaram-me para o Instituto de Biologia do Exército (IBEx), quartel situado em Benfica entre o Hospital Central do Exército e a Escola de Saúde do Exército.

Naquela OMS iniciei minhas atividades laborais como Adjunto da Seção de Veterinária atuando na área administrativa, confeccionando relatórios e ofícios. Nesse período, auxiliei na manutenção do serpentário daquela instituição, ainda muito incipiente, manejando ofídios peçonhentos, principalmente cascavéis e jararacas. Meu chefe, à época, era o então Tenente-coronel Veterinário Edino Camoleze.

Fui membro de comissões de cadastro e julgamento em licitações, participei de várias orientações a estagiários e na elaboração de convênios com universidades, organizei a biblioteca do IBEx, preparei cronograma de eventos semanais convidando professores de diversas instituições de ensino a ministrarem palestras científicas, ministrei aulas e proferi palestras sobre controle da Dengue em estabelecimentos de ensino civis e militares. Desempenhei outras funções no IBEx, tais como  Chefe da Seção de Soros, Toxóides e Vacinas,  Chefe da Divisão de Ensino e Pesquisa, Assessor da Direção, etc.

Havia, no IBEx, um grupo de pesquisa dirigido por militares norte-americanos oriundos do Walter Reed Army Institute of Research, cuja Unidade se intitulava USAMRU-BRAZIL, e dela faziam parte, além de Oficiais dos Estados Unidos e do Brasil, profissionais civis contratados. Um desses civis era o Dr. José Bento Pereira Lima, que me convidou a ajudar na manutenção do também incipiente insetário que havia sido recentemente implantado naquela OMS. Esse insetário, posteriormente, se transformaria no Laboratório de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC/FIOCRUZ, chefiado atualmente por ele próprio. Tenho muito orgulho de poder ter participado do início desse grandioso laboratório e, mais ainda, de ter podido conviver e aprender com o Dr. José Bento.

Durante minha estada no Exército Brasileiro, notadamente no grupo de pesquisa supracitado, participei de alguns trabalhos científicos, alguns publicados e nos quais consto como co-autor na maioria, e tive oportunidade de viajar pelo país, principalmente para a região Norte, onde atuamos em estudos voltados a testar repelentes. Algumas vezes viajamos para uma cidade fronteiriça com a Bolívia, chamada Costa Marques (RO), e também para Manaus (AM).

Tendo em vista a experiência que vinha adquirindo no até então insetário do IBEx, surgiu a oportunidade de participar efetivamente das reuniões da Comissão Executiva Estadual do Plano de Erradicação do Aedes aegypti – RJ. Concomitantemente, houve o apoio do Exército Brasileiro às ações de controle do mosquito vetor da Dengue. Ministrei palestras, também, aos militares envolvidos, e viajei com a denominada Força-Tarefa Dengue por diversos municípios do Estado do Rio de Janeiro, visando acompanhar a empreitada.

Apoiamos o trabalho de vários pesquisadores à época e tive grande prazer de conhecer outros grandes expoentes da ciência, tais como os Drs. Leônidas Deane, Leon Rabinovitch, Ricardo Lourenço-de-Oliveira, Elizabeth Rangel, Hermann Schatzmayr, etc.

Em função do meu desempenho no quartel, consegui liberação para participar, no período de 1993 a 1995, do Curso de Mestrado em Ciências Veterinárias da UFRRJ. Meu orientador foi o saudoso Prof. Dr. Nicolau Maués da Serra-Freire. A dissertação versava sobre a comparação de rações para peixes ornamentais na criação e manutenção de Anopheles albitarsis em laboratório. O trabalho resultante foi publicado em 1999, na Revista Brasileira de Parasitologia Veterinária. Naquela ocasião conheci minha esposa, que é bióloga e professora da UFRRJ.

No vídeo saudosista abaixo, trago algumas lembranças da minha trajetória no Exército Brasileiro, de 29/01/1991 a 27/01/1999, como Oficial Temporário Veterinário.

Letra do General A. Bastos Dias e música de Osires de Nordeste.

O Dr. João Moniz Barreto de Aragão nasceu no dia 17 de junho de 1871, em Santo Amaro, no Estado da Bahia, filho do Barão e da Baronesa do Mataripe, Antônio Moniz Barreto de Aragão e de D. Tereza Maria Pires de Albuquerque Moniz de Aragão. Cursou os melhores estabelecimentos secundários na cidade de Salvador e doutorou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1895, defendendo tese intitulada “A hérnia inguinal e sua durabilidade”. Em 1897, contagiado pelo clamor público que se levantou após a Guerra de Canudos, no interior da Bahia, se apresentou como voluntário, juntamente com outros médicos e professores da faculdade, ao comando militar e foi incorporado aos contingentes que partiram para o atendimento aos militares do Exército Brasileiro. O horror de Canudos marcou definitivamente o médico Moniz de Aragão, surgindo dali o futuro médico militar, o educador e, especialmente, o higienista. Em 1900, foi nomeado médico adjunto do Exército da guarnição militar de Florianópolis, e, em 1901, por meio de concurso para o Corpo de Saúde do Exército, passou a Tenente Médico. Em 1904, foi designado para o Laboratório Militar de Microscopia Clínica e Bacteriologia, mais tarde Instituto Militar de Biologia, do qual foi Diretor. De 1904 a 1907, teve atividade exemplar no ramo da pesquisa de patologia, de forma a conseguir extinguir as enzootias e, em função disso, fundou um Centro Nacional Veterinário dentro do Exército. Foi, ainda, encarregado das enfermarias de Cirurgia do Hospital Central do Exército. Além de sua atuação oficial no Exército, foi Adjunto do Diretor do Hospital de Santa Isabel, na Bahia e também realizou destacados serviços ao Ministério da Agricultura, na organização de serviços técnicos. Foi eleito Membro Titular da Academia Nacional de Medicina, em 1906, apresentando a memória intitulada “A hérnia inguinal perante a cirurgia contemporânea”. Foi também Segundo Secretário da ANM no biênio de 1909-1910. É o Patrono da Cadeira 89. No ano 1915, funda, junto com os Drs. Alvaro Tourino, Artur Lobo, Moreira Sampaio, Murillo Campos, Afonso Ferreira, Alarico Damásio, Alves Cerqueira e outros médicos militares, a Sociedade Médico-Cirúrgica Militar, da qual foi orador. Em 1921, atuando como Inspetor de Serviço Veterinário, foi nomeado membro da comissão encarregada de fixar a composição das rações das tropas em tempo de paz. É autor de vários trabalhos publicados, dentre eles “O mormo e a cirurgia (1905), “Radiografia e radioscopia nos exércitos em campanha” (1905), “Cirurgia de guerra” (1906) e “Estudos e crítica da organização de saúde da Rússia, Japão e Alemanha” (1907). Dois dos seus seis filhos seguiram seus passos na Medicina: o Dr. João Maurício Moniz de Aragão, obstetra, Docente da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e Diretor do Hospital Pro Matre; e o Acadêmico Raymundo de Castro Moniz Aragão, Professor de Microbiologia na Escola de Química, o primeiro Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Ministro da Educação, em 1966. O Dr. Moniz Aragão faleceu de síncope cardíaca, no dia 16 de janeiro de 1922, na casa em que residiu, localizada na rua que recebeu seu nome, Avenida Tenente Coronel Muniz de Aragão, no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Por meio do Decreto-Lei nº 2.893, de 20 de janeiro de 1940, o Tenente Coronel Médico Dr. João Moniz Barreto de Aragão foi considerado Patrono do Serviço de Veterinária do Exército, como reconhecimento aos seus esforços para a fundação e desenvolvimento daquele Serviço. É, também, o Patrono da Cadeira 94 da Academia Brasileira de Medicina Militar. (Fonte: Academia Nacional de Medicina)