Centro de Zoonoses Paulo Dacorso Filho

Por duas ocasiões estive no CCZ, instância ligada à Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. A primeira oportunidade foi em 2010, onde pude participar intensamente da elaboração do Primeiro Seminário Municipal de Atualização em Animais Sinantrópicos e Peçonhentos, ocorrido em agosto daquele ano. Conseguimos trazer palestrantes de várias instituições: Exército Brasileiro, Instituto Estadual do Ambiente, Instituto Vital Brazil e empresas ligadas à Saúde Ambiental e ao controle de pragas. A procura foi grande, e o evento um sucesso. Por questão de justiça, registro aqui a fundamental participação do servidor Francisco Amorim Mendes, infelizmente já falecido, que me ajudou com afinco na organização daquele grandioso Seminário. Não fosse esse camarada fantástico, servidor inteligente, dedicado e leal, certamente não teríamos alcançado o êxito que se observou.

Na segunda oportunidade, em 2014, agora assumindo a Direção daquela Unidade de Saúde, pude sentir o quão desafiador é estar à frente do CCZ. O lugar, assim como todos os centros de zoonoses espalhados pelo país, tem um pesado estigma, que remonta à época das extintas “carrocinhas”. Livrar-se dessa cicatriz é tarefa hercúlea. Muitas pessoas fazem alarde nas redes sociais, mas grande parte delas – eu diria a esmagadora maioria – nunca pisou no local e nem contribuiu com nada de concreto, principalmente adotando os animais lá existentes. Falam demais, mas não conhecem e tampouco ajudam. Dá para entender? Nem eu!

Dentre as várias atribuições do CCZ, a que chama mais a atenção é justamente a remoção de grandes animais de logradouros públicos, bem como a remoção de pequenos animais doentes, com suspeita de zoonoses, ou que comprovadamente agrediram alguém. Estes são colocados em quarentena e, caso ninguém os adote, ficarão lá e verão a morte chegar um dia. Triste, não? Foi justamente por conta disso que iniciamos uma grande empreitada no sentido de divulgar, inclusive utilizando um Blog institucional, as imagens dos animais que estavam disponíveis para a adoção. A iniciativa surtiu um efeito interessante e muita gente foi lá e levou um bichinho para casa.

Além disso, enquanto eu ainda estava na cadeira da Direção, estabelecemos uma parceria inédita com a Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SEPDA) e começamos a levar os nossos “hóspedes” para as maratonas de adoção promovidas por eles. Além disso, outro fato pioneiro: participávamos dessas maratonas com nossos vacinadores. Enquanto nós trabalhávamos na adoção dos animais, os da SEPDA e os nossos, ainda vacinávamos contra a Raiva cães e gatos que a população levava a esses eventos. Houve ocasiões em que mais de 2000 (duas mil) doses de vacina foram aplicadas em um só dia. Bem-estar animal + Saúde Pública, tudo a ver!

Das centenas de histórias que presenciei, algumas tristes, outras vitoriosas, duas delas eu destacaria. A primeira é a do cão batizado de Barbudinho. Ele foi resgatado das ruas do bairro de Campo Grande. Aparentemente tinha sido atropelado, e, por conta do medo e da dor, ameaçava morder qualquer um que chegasse perto dele. Chegou ao CCZ sem muitas perspectivas, mas com o apoio do Instituto de Medicina Veterinária Jorge Vaitsman, ele teve uma das patas amputadas e, recentemente, foi adotado por uma das médicas veterinárias que lá trabalha.

A outra bela história é a do potrinho Lucky, resgatado por nós numa ação noturna na Ilha do Governador em maio/2015. Ele foi vítima de maus-tratos e teve, como consequência da estupidez humana, a tíbia de uma das patas traseiras fraturada. Conseguimos cirurgia para ele no Hospital de Grandes Animais do Instituto de Veterinária da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Após seis meses de internação, o potrinho sortudo teve alta hospitalar e uma madrinha já o adotou. Maldade e covardia com o Lucky, nunca mais!

Algumas novidades implantamos para dar aos animais melhores condições de vida em confinamento. Uma delas aconteceu nos dois gatis existentes no CCZ. Abaixo, temos algumas imagens para ilustrar isso. Os gatinhos, diga-se de passagem, aprovaram a ideia.