Em meados de 2015 fui convidado a participar da gestão da Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (SEPDA) como Subsecretário Técnico. Foi um grande desafio trabalhar com questões tão urgentes e sensíveis, que despertam tanto amores quanto ódios. É impressionante, mas pude perceber, nos quase dois anos em que permaneci naquela instância da municipalidade, que nem tantas pessoas assim, dos chamados grupos de “protetores”, realmente se envolviam na causa animal por dedicação e estima verdadeiras. Vários interesses individuais observei, inclusive financeiros, muitas intrigas entre eles próprios, ataques – não raro sem fundamento e/ou destemperados – aos profissionais da Prefeitura, sobretudo nas redes sociais; enfim, desunião e desrespeito eram constantes. Nunca vivenciei coisa igual.
Fora essas questões, que nem valem a pena discorrer em profundidade, procurei auxiliar no que foi possível, e não apenas nas questões técnicas voltadas à medicina veterinária. A SEPDA, apesar das ações da Ouvidoria, verificando situações voltadas a maus-tratos/abandono e fazendo resgates esporádicos, dos dez minicentros de esterilização que possuía, três deles também com atendimento clínico a cães e gatos, das maratonas de adoção (inclusive no período das Olimpíadas) realizadas em diversos bairros e do abrigo municipal de animais, localizado na Zona Oeste da cidade, sempre padeceu com o minguado orçamento. Havia diversas ideias e boa capacidade técnico-operacional na pequena e valente equipe, mas algumas estratégias importantes não puderam se concretizar, infelizmente.
Tive oportunidade de participar de uma das ações mais emblemáticas da SEPDA, repercutindo em âmbito nacional, que foi justamente a extinção da tração animal na Ilha de Paquetá, em 19/05/2016. Lembro das diversas reuniões de planejamento que realizamos, inclusive com os charreteiros daquela ilha, para que tudo transcorresse bem. Houve o apoio fundamental em transporte, naquele dia, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, e, também da Vigilância Sanitária municipal, através da atuação do Instituto de Zoonoses Paulo Dacorso Filho. Hoje, os ex-charreteiros labutam com o deslocamento de pessoas utilizando carros elétricos, ecologicamente corretos, sem que os cavalos sejam mais explorados. A propósito, os animais que resgatamos de Paquetá estão vivendo na atualidade num belo santuário, em Teresópolis/RJ, onde pastam e correm soltos. Para saber como ajudar o trabalho lá desenvolvido em prol dos animais, clique aqui.
Uma preocupação constante, dentro das limitações existentes, foi com a situação dos chamados animais comunitários, que na cidade são protegidos por Lei Municipal desde 2008. As ações tiveram início no Campo de Santana, um enorme parque com árvores frondosas, grutas, obras de arte e pontes no Centro do Rio de Janeiro. O local se tornou um dos mais expressivos pontos de abandono de felinos do município e, por isso, iniciou-se um intenso trabalho de esterilização desses animais para tentar conter a explosão populacional. Ainda falando sobre os comunitários, iniciamos, de forma inédita, o cadastramento dos felinos do Centro Administrativo São Sebastião, sede da Prefeitura, outro local de abandono de animais. A maioria dos gatos que lá vivem foram microchipados, fotografados e vacinados.
A SEPDA foi extinta em 2017, surgindo em seu lugar a Subsecretaria de Bem-estar Animal. Desejo aos novos gestores boa sorte. Que possam desempenhar suas funções a contento e recebam auxílio dos escalões superiores para transpor os imensos desafios, os que estão postos e os vindouros.