Vai uma toxinfecção alimentar aí?

A imagem acima fiz recentemente na Antiga Estrada Rio-São Paulo, a BR-465. Não é novidade, pois já presencio a cena desde quando iniciei meus estudos na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, lá pelos idos de 1985. Ocorre que pescadores artesanais locais, oriundos de Seropédica e Nova Iguaçu, encontraram o seu ganha-pão no Rio Guandu, que marca a divisa entre aqueles dois municípios fluminenses, e vendem o resultado da pesca à linha para um intermediário que expõe os peixes, sem qualquer tipo de preocupação com aspectos higiênico-sanitários, na beira da estrada. Fiscalização? Inexiste há décadas.

Se quer mesmo comprar tamboatás (Hoplosternum littorale), cascudos-pintados (Hypostomus affinis), lambaris-bocarras (Oligosarcus hepsetus), acarás-ferreiros (Australoheros facetus) ou as exóticas tilápias (Tilapia rendalli) naquele “estabelecimento comercial”, fica por sua conta e risco. Deve haver algo de especial no “tempero” empoeirado da rodovia, no “tratamento” da carne pelo calor, já que não há gelo para conservação, e na “defumação” proveniente do escapamento dos veículos que ali transitam, representados, boa tarte, por caminhões, ônibus e vans que nem de longe passam por manutenções adequadas, baforando aquela odiosa fumaça negra, prejudicando sobremaneira a saúde de todos nós e do ambiente. Ah! Quase ia me esquecendo de citar as moscas…

Pesca à linha no Rio Guandu.

É fundamental, para conservar o pescado, mantê-lo em temperaturas baixas. Na situação em tela, precária e improvisada, claro que o gelo é um fator que encarece a comercialização, mas devemos ter sempre em mente que o frio conserva o pescado ao retardar a atividade microbiana e as reações químicas e enzimáticas que levariam à deterioração, mantendo, dessa forma, seu estado de “frescor” durante a recepção, distribuição e comercialização, tanto no atacado como no varejo.

Segundo cartilha confeccionada em conjunto pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (SEAP) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), no que se refere a pescados, o peixe fresco deve apresentar as características abaixo citadas.

  • Estar livre de: contaminantes físicos (areia, pedaços de metais, plásticos e/ou poeira), químicos (combustíveis, sabão e/ou detergentes) e biológicos (bactérias, vírus e/ou moscas);
  • Aparência: ausência de manchas, furos ou cortes na superfície;
  • Escamas: bem firmes e resistentes. Devem estar translúcidas (parcialmente transparentes) e brilhantes;
  • Pele: úmida, firme e bem aderida;
  • Olhos: devem ocupar toda a cavidade, ser brilhantes e salientes, sem a presença de pontos brancos ao centro do olho;
  • Membrana que reveste a guelra (opérculo): rígida, deve oferecer resistência à sua abertura. A face interna deve estar brilhante e os vasos sanguíneos, cheios e fixos;
  • Brânquias: de cor rosa ao vermelho intenso, úmidas e brilhantes, ausência ou discreta presença de muco (líquido pastoso);
  • Abdômen: aderidos aos ossos fortemente e de elasticidade marcante;
  • Odor, sabor e cor: característicos da espécie que se trata;
  • Conservação: deve ser mantido sob refrigeração ou sobre uma espessa camada de gelo.

A propósito, toxinfecção alimentar é uma doença decorrente da ingestão de alimentos contaminados devido a falhas no processo de fabricação, elaboração, conservação, exposição ou consumo de alimentos. Em situações especiais, quando envolve pelo menos duas pessoas, pode caracterizar um surto. Varia de leve a grave, podendo levar ao óbito. Alimentos de origem animal, como carnes em geral, leite e ovos são os mais comumente incriminados.

A você que acompanha o meu blog, muito obrigado pela companhia. A postagem acima foi, provavelmente, a última do ano de 2018. Receba meu abraço fraterno e o meu sincero desejo de que tenhas um Ano Novo com muita paz, amor e saúde, extensivo aos seus digníssimos familiares e amigos.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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