Monteiro Lobato e o racismo

O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta terça-feira (11) audiência de conciliação que abordará o uso do livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, na rede pública de ensino. O livro foi publicado em 1933 e faz parte do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), do Ministério da Educação. Foi distribuído em escolas de todo o país. O questionamento foi feito por uma entidade do movimento negro e por um técnico em gestão educacional. Eles afirmam que o livro tem ‘elementos racistas”. Em um trecho do livro, por exemplo, a personagem Emília, do Sítio do Pica-Pau Amarelo, diz: “É guerra e das boas. Não vai escapar ninguém – nem Tia Anastácia, que tem carne preta”. (Fonte: G1)

Apenas para relembrar, Monteiro Lobato foi um escritor brasileiro que nasceu em 1882 e morreu em 1948. Foi um dos primeiros autores de literatura infantil em nosso país e em toda América Latina. Tornou-se editor, criando a “Editora Monteiro Lobato” e mais tarde a “Companhia Editora Nacional”. Metade de suas obras, cujo destaque maior foi “O Sítio do Picapau Amarelo”, é formada de literatura infantil. Como escritor literário, Lobato destacou-se no gênero “conto”. O universo retratado, em geral são os vilarejos decadentes e as populações do Vale do Parnaíba, quando da crise do plantio do café. Em seu livro “Urupês”, que foi sua estréia na literatura, Lobato criou a figura do “Jeca Tatu”, símbolo do caipira brasileiro. As histórias do “Sítio do Picapau Amarelo”, e seus habitantes, Emília, Dona Benta, Pedrinho, Tia Anastácia, Narizinho, Rabicó e tantos outros, misturam a realidade e a fantasia usando uma linguagem coloquial e acessível. A interessante história desse nosso compatriota pode ser vista no E-biografias.

É indiscutível a significativa contribuição de Monteiro Lobato para a literatura desta Nação. Penso que essa conciliação no STF é tremendamente oportuna, haja visto a possibilidade de haver um entendimento maior sobre o tema proposto: o racismo. Obviamente que a discussão deve ser levada sob a égide de quem entende que na época em que o livro foi escrito, linguajar e costumes em voga eram outros. Importante seria que os educadores, ao comentar ou indicar a leitura dessa obra literária às crianças, aproveitassem o ensejo para inserir uma discussão clara e sem hipocrisia sobre o atraso que representa o racismo para a nossa sociedade.

Parece-me que há um certo radicalismo, vez por outra, quando surge esse tema. Já não devíamos tratá-lo com tanto melindre. Vejo as cotas raciais, por exemplo, como uma aberração. Tenta-se resolver um problema lá na ponta quando o correto, coerente e viável seria investir de forma intensa numa base firme, lá atrás, desde o ensino fundamental, para que todos os cidadãos, independentemente de sua cor, pudessem ter as mesmas oportunidades. Invista-se maciçamente num ensino público de qualidade. O resto, meus amigos, é balela. Deixem o Monteiro Lobato fora disso!

Apenas para completar, aproveitando para enaltecer a biografia e a sensibilidade desse grande escritor: é no livro “Urupês”, que Monteiro Lobato retrata a imagem do caipira brasileiro, onde destaca a pobreza e a ignorância do caboclo, que o tornava incapaz de auxiliar na agricultura. O Jeca Tatu é um flagrante do homem e da paisagem do interior. O personagem se tornou um símbolo nacionalista utilizado por Rui Barbosa em sua campanha presidencial de 1918. Na 4ª edição do livro, Lobato pede desculpas ao homem do interior.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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Uma resposta para Monteiro Lobato e o racismo

  1. este livro e muito bacana eu tenho um livro do sitio do pica pau amarelo reinaçoes de narizinho volume dois

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