As eternas feiras ilegais

Mesmo com o apelo conservacionista cada vez mais presente em nosso cotidiano, entra década e sai década somos surpreendidos com o comércio ilegal de animais silvestres em “feiras” espalhadas por todos os cantos deste nosso país. Hoje mesmo, ao assistir a um telejornal enquanto aguardava atendimento médico de rotina, novamente o tema veio à tona, desta vez no centro da cidade de Duque de Caxias.

Curioso nessa história é que os locais são sempre os mesmos, manjadíssimos. Mas o que causou mais revolta foi a manobra que os bandidos estipularam, ao melhor estilo dos narcotraficantes, aliciando criminosamente crianças, que são utilizadas na linha de frente para a venda dos animais da fauna brasileira.

O discurso decorado das crianças durante o negócio, flagrado na reportagem, é mais ou menos o seguinte:

Se o bicho morrer, traz de volta congelado que nós trocamos.

Triste, não? Já seria um massacre se no lugar das crianças estivessem apenas marmanjos vendendo filhotes de papagaios, araras, sabiás, macacos, tartarugas e etc. Mas é desolador, absurdo e cruel ver menores de idade perpetrando crimes ambientais com o objetivo de manter os respectivos mandantes na surdina. Se hoje atuam dessa forma, o que esperar amanhã desses futuros cidadãos?

O IBAMA foi contatado pela reportagem e não se pronunciou. Nem há o que falar mesmo, tamanha a incompetência demonstrada por um órgão que deveria coibir com rigor essa prática, ainda mais num grande centro urbano, nas barbas de todos nós. Se aqui no Rio de Janeiro a coisa acontece dessa forma, como numa grande festa popular, imaginem por este Brasilzão afora…

Cadê a Polícia Ambiental da nossa gloriosa Segurança Pública? Vender animais das matas brasileiras deixou de ser ilegal? Salvo engano, trata-se de crime, embora eu entenda que as penas aplicáveis são brandas demais.

A propósito dessa discussão, é imprescindível que os excelentíssimos legisladores – que são eleitos pela sociedade – se dignassem a rever com urgência a questão da maioridade penal. Com frequência vemos toda a sorte de crimes sendo executados por “menores”. Se esses meliantes-trainees podem votar, por que não podem ser responsabilizados criminalmente pelos seus atos?

Voltando à vergonhosa venda de animais silvestres, assim como ocorre com a cocaína e a maconha, por exemplo, ela só existe porque há quem compre. Óbvio.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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