Após a tragédia ocorrida em Santa Maria, município do estado do Rio Grande do Sul, estamos todos os brasileiros consternados. O Brasil pranteia em luto. Às famílias das pessoas cujas vidas foram ceifadas pelo incêndio na Boite Kiss, há dois dias, encaminho meus sinceros pesares.
Infelizmente nossa cultura, em vários aspectos, está longe de ser a da prevenção, mas sim a do reparo. Arrombaram a porta! Que pena, agora temos de colocar um cadeado nela… Choremos pelo leite que foi derramado… Tomara que não volte a acontecer…
Exemplos dessa cultura não faltam. Citaria aqui, embora os mais novos talvez nem saibam do que se trata, o Edifício Joelma, na cidade de São Paulo. No dia 1º de fevereiro de 1974 (eu tinha apenas 7 anos de idade) ocorreu um incêndio terrível naquela edificação. Por falhas diversas, que iam dos itens utilizados na construção à falta de estrutura para promover o rápido escoamento das pessoas em fuga, passando pelo material precário utilizado à época pelos Bombeiros, cento e noventa e um ocupantes do edifício morreram.
Voltamos para tempos mais recentes e encontramos outro exemplo infeliz, o Morro do Bumba, posteriormente chamado de Cemitério do Bumba, na cidade fluminense de Niterói. Desta vez não foi uma tragédia inesperada, mas sim uma que estava sendo anunciada por cada chuva que caía na localidade. Mais cedo ou mais tarde um deslizamento daquela magnitude ocorreria. Pelo menos duzentas e sessenta e sete pessoas morreram lá em 2010.
Ainda permanecendo por aqui, no estado do Rio de Janeiro, o que dizer da tragédia na Região Serrana, acontecida nos dias 11 e 12 de janeiro de 2011, que levou com ela mais de quinhentas vidas?
Nossa cultura é interessante. Esses desastres ocorrem, em boa parte, devido à desordem urbana instalada, algo que permite a ocupação desenfreada de áreas de risco. Outros, como os incêndios, bem que poderiam ser muito menos frequentes e mortais se a legislação vigente fosse cumprida. Só isso. Sem fiscalização, é claro, esses absurdos continuarão e continuarão.
Faz parte da cultura tupiniquim: os culpados estão plenamente expostos, e eles mesmos vêm à mídia posar de bons moços, prometendo apuração rápida e providências enérgicas para que nunca mais ocorra algo parecido. O povão acredita e aguarda, mesmo sem ter muita noção de que é melhor prevenir do que remediar, pela nova catástrofe.