O perigo vem (também) de cima

Nos céus do bairro de Todos os Santos, há muitos anos, numa época em que a ingenuidade da infância ainda corria solta dentro de mim, não era raro que me vissem maravilhado, olhando para cima a contemplar os inúmeros balões que preenchiam a enormidade azul. Nas datas festivas, então, quase não dava para acreditar na quantidade.

Naquele tempo a soltura de balões era algo encarado como absolutamente natural, pelo menos em minha percepção. A criatividade dos baloeiros impressionava. Além dos balões, alguns gigantescos, muitos carregavam imagens diversas, de escudos de times de futebol, santos, personagens de desenhos animados. De vez em quando, além disso, ainda levavam uma boa carga de morteiros. À noite, as lanternas formavam desenhos multicoloridos e parte das bombas dava lugar a belos fogos de artifício. Um trabalho que demandava, obviamente, muito tempo e planejamento por parte dos amantes dessa prática.

Apesar de estabelecer desde 1965, o Código Florestal, que a soltura de balões é uma contravenção, de lá para cá esses artefatos já trouxeram e continuam a trazer tremendos prejuízos, devastando principalmente as áreas verdes, mas vez por outra atingindo carros e casas. Importante lembrar também das instalações industriais, como as refinarias de petróleo, e do perigo às aeronaves. Esse papo de baloeiro de que a bucha apaga antes do balão cair, ou de que os balões vão sempre para o mar, que são inofensivos, é conversa fiada para boi dormir. Visando provar isso, recentemente, eu e minha família, fomos surpreendidos por um desses visitantes indesejáveis. Ele veio cair em cima do telhado de nossa garagem. A bucha estava apagada, é verdade, mas o fogo permanecia queimando nas telhas, resultante das duas únicas lanternas que o balão carregava. Consegui apagá-las, com alguma dificuldade e equilibrando-me sobre a escada, com uma vassoura.

A partir de 1998 soltar balões é considerado crime (Lei nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais). No ano seguinte, aqui no Rio de Janeiro, teve início a campanha conhecida como “Disque Balão”, com o objetivo de desestimular os atos de baloeiros a partir de ações de prevenção e repressão, combatendo a confecção, comercialização, soltura e realização de festivais de balões. Basta ligar para o 2253-1177, o Disque Denúncia. Periga você ganhar até uma recompensa que varia de R$ 300,00 a R$ 2.000,00 por informações que levem a apreensão de balões e/ou identificação e localização de baloeiros.

O maior número de incidentes com balões ocorre entre os meses de abril e junho, período em que se iniciam os preparativos em homenagem a São Jorge, dia das mães e também das festas juninas. O problema é ainda agravado pela menor umidade do ar no outono.

Pessoal, estamos no final de maio. Olha o perigo aí! Consciência, respeito ao próximo e à Natureza não custam nada e fazem muito bem a todos nós. Para ver algumas resenhas de acidentes provocados por balões, divulgadas pelo Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, clique aqui.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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