Eu desperdiço, tu desperdiças…

A imagem inicial desta postagem retrata um enorme vazamento de água potável que vi ontem, ao passar pela Avenida Brasil, na altura do bairro de Irajá. Ao fundo podemos ver parte do Shopping Via Brasil. Naquela importante rodovia, flagrar esse tipo de desperdício não é tarefa difícil.

É surpreendente, mas nunca tinha ouvido falar em volume morto dos nossos reservatórios d’água. Nem imaginava o que era isso. Pensei ingenuamente que, no futuro, meus filhos e netos sentiriam com mais intensidade os impactos desses problemas voltados ao abastecimento de água e energia. Ledo engano. Já estamos vivenciando dias difíceis na atualidade, isso por conta de ignorância, da ganância e da penúria em termos de investimentos e de visão de longo prazo.

Além da água que é desperdiçada todos os dias, seja na “famosa” lavagem das calçadas por parte dos cidadãos, nos banhos demorados, em vazamentos e ligações clandestinas, ainda há, com o calorão danado que nos atinge, as consequências desastrosas relacionadas com a limpeza e a complementação do nível de água das piscinas. O índice nacional de desperdício de água, segundo o Ministério das Cidades, é de 37%, mas chega a 50% em algumas cidades brasileiras. Se focarmos em aspectos relacionados à poluição, aí sim veremos que a coisa já foi por água abaixo há muito tempo.

Recomendo a leitura de um interessante texto, escrito pelo jornalista André Trigueiro, pós-graduado em gestão ambiental pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia/UFRJ e professor de jornalismo ambiental da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, sobre a crise hídrica que atinge o Brasil, principalmente o Sudeste, região mais populosa e rica do Brasil. Dentre as providências urgentes que deveriam ser tomadas pelo governo federal, ele sugere a criação de um Conselho de Notáveis e a inserção de pelo menos quatro ministérios no combate ao problema, visando, dentre outras coisas: a) apresentar propostas de novos estímulos fiscais a produtos e serviços que promovam a drástica redução do consumo de água e energia nos mais diversos setores da economia; b) realizar um amplo levantamento das técnicas mais eficientes no uso de água pelo setor agrícola, já que aproximadamente 70% das águas doces em nosso país são usadas nas lavouras; c) elaborar estudo identificando quais os empreendimentos que mais consomem energia elétrica hoje no país; d) convocar representantes da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Academia Brasileira de Ciências (ABC) e da Agência Nacional de Águas (ANA) para que reapresentem as críticas formuladas por essas instituições contra o novo Código Florestal, no que se refere aos riscos que ele representaria às bacias hidrográficas.

O trocadilho é inevitável, mas o fato é que a água vem perdendo de lavada desde 1981. Ficou em segundo lugar no Festival MPB Shell daquele ano, quando Planeta Água perdeu para Purpurina. Um horror. Marmelada pura. Péssimo agouro para esse líquido essencial à nossa sobrevivência.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, lotado na Superintendência de Vigilância Sanitária. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário, e na Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, também Prefeitura do Rio, como Chefe de Gabinete.
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