Esporotricose: uma doença em expansão

Fazer mais um vídeo no YouTube representou grande desafio para mim, ainda mais por conta da complexidade do assunto. Claro que não esgotei o tema nos quase oito minutos de apresentação. A finalidade do trabalho, para que o mesmo não se tornasse enfadonho a quem se propôs a assistir, foi passar informações interessantes de forma rápida e objetiva.

De qualquer forma, para as pessoas que querem se aprofundar nesse sério problema de Saúde Pública, seguem abaixo outros aspectos relevantes dessa doença que vem se alastrando por todo o Brasil.

A ENFERMIDADE NOS ANIMAIS

A esporotricose é classificada entre as micoses subcutâneas. Ela se manifesta por lesões cutâneas ou subcutâneas restritas, mas pode acometer órgãos internos;

A esporotricose felina apresenta um amplo espectro clínico, variando desde uma infecção subclínica, passando por lesão cutânea única até formas múltiplas e sistêmicas fatais, acompanhada ou não de sinais extracutâneos;

Em gatos a forma cutânea é mais frequente, sendo as lesões comumente vistas na cabeça, parte distal dos membros ou região da base da cauda;

A doença pode se disseminar para outras áreas do corpo (outros membros, face, orelhas) via auto-inoculação durante o comportamento normal de se limpar. Alguns gatos podem apresentar história de letargia, depressão, anorexia e febre, o que sugere o potencial para doença disseminada.

O PAPEL DOS ANIMAIS NA EPIDEMIOLOGIA

A transmissão dos animais para humanos ficou limitada a esporotricose felina, por causa do grande número de microorganismos fúngicos encontrados nos tecidos felinos contaminados, exsudatos e fezes, o que pode levar a inalação e desenvolvimento de doença disseminada em imunodeprimidos;

A riqueza parasitária encontrada nas lesões cutâneas dos gatos o diferem de outras espécies quanto ao potencial zoonótico;

Além de possível inalação, outras vias de contágio humano seriam a manipulação ou o contato com feridas de gatos com esporotricose, além de arranhões e mordeduras por animais contaminados. Às vezes os animais não estão visivelmente infectados, sendo portadores, com o fungo vivendo como comensal na cavidade oral;

No gato acredita-se que a doença seja adquirida pela inoculação do microorganismo por unhas ou dentes contaminados de outro gato.

ASPECTOS PREVENTIVOS

Considerando o extenso reservatório ambiental, a prevenção total é quase impossível;

Todas as pessoas que manipulam gatos suspeitos de apresentarem esporotricose devem usar luvas, também devem ser usadas para colher amostras de exsudatos ou de tecidos, sendo retiradas cuidadosamente e descartadas de forma apropriada no fim do procedimento;

Os animais doentes devem ser separados dos outros animais e tratados sob a orientação de médico veterinário, preferencialmente sob regime de internação em clínica veterinária. Os animais mortos devem ser cremados para evitar a dispersão do fungo na natureza;

Deve-se recomendar ao proprietário fazer a desinfecção no local onde o felino permanece com hipoclorito de sódio a 1%. Alertá-lo para a assepsia correta após o contato com o animal. Orientar a castração dos gatos machos que, por circularem pela rua, são mais propensos a brigas que podem causar feridas e acidentalmente abrigar o fungo.

TRATAMENTO

O tratamento para esporotricose consiste na administração de drogas antifúngicas sistêmicas de longa duração variando de semanas a meses;

É importante manter o uso da medicação durante, no mínimo, um mês após a cura clínica completa, para evitar recidiva;

A cura clínica, na maioria dos casos, ocorre dentro de aproximadamente 2-3 meses.

EXISTE SOLUÇÃO?

Sim. A esterilização em massa dos animais deve ser incentivada. Essa estratégia não irá apenas prevenir doenças, mas diminuirá de forma intensa, em médio/longo prazo, abandonos e maus-tratos. As instâncias públicas diretamente envolvidas com ações de Saúde Pública e de Defesa Animal devem se organizar, se for o caso em convênio/parcerias com clínicas veterinárias particulares e com os Conselhos Regionais de Medicina Veterinária, para que o maior número possível de felinos seja esterilizado o quanto antes.

 

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, lotado na Superintendência de Vigilância Sanitária. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário, e na Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, também Prefeitura do Rio, como Chefe de Gabinete.
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4 respostas para Esporotricose: uma doença em expansão

  1. Informações nota dez!!!! Didática perfeito. Bela edição do vídeo. Parabéns, Mauro Blanco!!!

  2. Rosa Maria Antunes disse:

    Parabéns Dr. Mauro Blanco! Informações importantes em prol da saúde animal e humana!

  3. Maurício Iencarelli disse:

    Excelente meu nobre colega. Passou as informações com clareza sem ser cansativo. Parabéns

  4. Marcia Fajardo disse:

    Olá amigo! Compartilhando no Facebook.. Excelente matéria!

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