2017 está prestes a ter início. Neste período são comuns as felicitações recíprocas, as trocas de mensagens otimistas. Desde que me entendo por gente, acompanho na televisão, normalmente em dezembro, aquela música que diz: “hoje é um novo dia de um novo tempo”… Muitos de nós, momentaneamente, nos sentimos bem ouvindo a bela melodia e esquecemos dos percalços diários. Saio às vezes, com alguma relutância, dessa redoma quase mágica que as festividades de final de ano nos proporcionam, desse sentimento de liberdade e paz, e passo a olhar com atenção os sinais que despontam ao meu redor.
Estou certo de que vocês todos já viram um aparato que lembra muito as cenas dos teatros de guerra do século passado, chamado concertina. Nada mais é do que uma cerca em aço, que possui formato em espiral, podendo ser eletrificada ou não, e é instalada sobre muros e portões de residências, bem como outros locais que possam ser alvos de invasões e roubos. Já repararam a quantidade delas existente em nosso ambiente urbano?
A cada dia que passa, mais e mais concertinas vão sendo colocadas por todos os cantos, numa tentativa desesperada das pessoas se protegerem. O que me impressiona, particularmente, é que o excesso dessas cercas, ao contrário de proporcionar sensação de segurança, me fazem crer que a violência continua seguindo de forma inexorável uma reta ascendente, acuando-nos sem dó, nem piedade.
Segundo informações publicadas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) do Governo do Estado, somente em novembro de 2016 foram registradas 461 vítimas de homicídio doloso no estado do Rio de Janeiro, representando um aumento de 121 vítimas, ou de 36,5%, em relação ao mesmo período do ano anterior. No gráfico do ISP, pode-se observar que apenas no mês de janeiro de 2016 o número desses crimes foi inferior ao mês correspondente do ano de 2015.
Vivemos presos em modernos campos de concentração, as nossas próprias casas. Objetivamente, devemos encarar essa realidade sombria e trabalhar de maneira incansável para que possamos reverter o quadro atual. Necessitamos de leis mais duras para os bandidos, que os façam ter certeza absoluta de que precisam de uma ocupação honesta, já que o crime não é compensador. Chega de tantos e tantos recursos protelatórios, que fazem a Justiça caminhar de olhos vendados, mãos e pés atados. Carecemos, não obstante, de bons exemplos, e isso representa para a nossa sociedade um tremendo prejuízo. Por aqui se cultuam “artistas” que morrem de tanto se drogarem ao invés de se valorizar, para citar apenas uma classe profissional, o policial mal remunerado que não sabe se voltará a ver os familiares após sair para o serviço. Muita coisa errada, e temos boa parcela de culpa nisso devido ao nosso desinteresse. Pecamos, minimamente, por omissão.
Mas não posso terminar este texto sem uma mensagem de esperança. Ela está presente, sim, apesar das amarras de concertina, dentro de cada lar, dentro de cada coração. Que o novo ano chegue com perspectivas melhores, mais harmonioso, e, sobretudo, que possamos atuar efetivamente e conscientemente em prol de um planeta mais humano.
Tenhamos um 2017 com mais paz do que cercas.
Precisamos de EDUCAÇÃO E JUSTIÇA SOCIAL.
O pior é que, ao ler esse texto agora em 2018, o tema em questão revela o quanto pioramos em segurança pública.
Infelizmente, meu amigo. A coisa está muito feia…