Chamem (e paguem) o sr. flautista

Enquanto os animais que deveriam comer a ração dormem, o roedor oportunista “faz a festa”.

Os ratos estão na moda por aqui, principalmente nas notícias diárias que nos trazem escândalos e mais escândalos de corrupção. Mas por enquanto, para não alarmar ainda mais quem está lendo (se é que isso é possível nessas alturas do campeonato), ficarei restrito nesta postagem aos roedores em sentido literal.

Esses animais estão relacionados com a transmissão de doenças há muito tempo. Já no Século XIV, por ocasião da chegada de pulgas das estepes da Mongólia infectadas com a bactéria Yersinia pestis, que utilizaram roedores da espécie Rattus rattus como hospedeiros, a Europa padeceu com a sua primeira epidemia de peste bubônica (ou peste negra). Naquela época, e nas epidemias subsequentes, inclusive na China, Índia, África e Oriente Médio, estima-se que quase uma centena de milhão de pessoas morreram. Impressionante, mas segundo a BBC (British Broadcasting Corporation), essa doença não ficou relegada aos porões da história. Ainda é endêmica, ou seja, mantida sem necessidade de contaminação do exterior, em Madagascar, na República Democrática do Congo e no Peru. E o mais surpreendente é que ela ainda mata pessoas nos EUA em pleno Século XXI: 4 mortes registradas em 2015. Lá, o problema se espalha devido ao contato com a pulga do cão-da-pradaria, que é um pequeno mamífero roedor, típico da América do Norte.

Além da peste bubônica, várias outras doenças podem ser transmitidas pelos roedores, dentre elas:  leptospirose, tifo murino, febre da mordida do rato, triquinose, salmonelose, sarnas, micoses e hantavirose. Tá bom ou quer mais? Qualquer das infecções citadas podem ocorrer ou através da mordedura, ou do contato direto/indireto do homem com as fezes, pelo, saliva e urina desses animais, ou por infestação causada por seus ectoparasitos (parasitos externos).

Das 1700 espécies de roedores descritas pelo mundo, cerca de 130 são classificadas como pragas. No Brasil consideramos 3 espécies principais, que colonizam habitações humanas e seus arredores, retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e a água, as chamadas sinantópicas. São elas: a ratazana (Rattus norvegicus), o rato de telhado (Rattus rattus) e o camundongo (Mus musculus), que particularmente são importantes por terem distribuição cosmopolita e por serem responsáveis pela maior parte dos prejuízos econômicos e sanitários causados ao homem.

Roedores Sinantrópicos Comensais.

Realizar o tratamento contra roedores, sempre que há indicação para isso, deve ser feito preferencialmente por profissional habilitado, pois é uma atividade complexa. Importante frisar que o tal chumbinho, aquele mesmo que é vendido em qualquer banca de camelô e até na internet, na verdade é um agrotóxico cujo ingrediente ativo é chamado Aldicarb.  Sua comercialização é expressamente proibida, pois ele extermina roedores, gatos, cães, aves, crianças… e também você! Um único grama do veneno pode matar uma pessoa de até 60 quilos em meia hora.

Chumbinho é um produto clandestino, irregularmente utilizado como raticida.

Hoje, em nossa conjuntura sofrível, muito provável que o famoso flautista de Hamelin, surgido em épocas medievais, tivesse levado outra “volta” das autoridades contratantes. Mas como seus feitos não passam de uma fábula (embora haja controvérsias), quase sempre é mais viável – e seguro – tomar medidas efetivas e relativamente simples de prevenção visando evitar a invasão de roedores num imóvel. Seguem algumas delas, a maioria de responsabilidade do cidadão comum:

• Manter o ambiente doméstico limpo; • Evitar acúmulo de lixo, acondicionando os restos de alimentos em sacos plásticos bem fechados; • Saneamento básico; • Não acumular entulho em áreas públicas ou privadas; • Manter os lotes sempre limpos, cortando a grama e evitando mato alto; • Retirar as sobras de alimentos dadas aos animais, como ração, não deixando restos de um dia para outro; • Armazenar os alimentos em armários bem fechados e geladeira, dificultando o acesso dos ratos; • Vedar pequenas aberturas que possam facilitar a entrada de ratos no domicílio; • Não obstruir bueiros e córregos com lixo e sucatas.

Illustration of the Pied Piper Leading Rats — Image by © Bettmann/CORBIS

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, lotado na Superintendência de Vigilância Sanitária. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário, e na Secretaria Municipal de Proteção e Defesa dos Animais, também Prefeitura do Rio, como Chefe de Gabinete.
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