SOS Animais Silvestres

Arara Canindé. Imagem feita em 25/02/2012.

Há algumas décadas minha visão sobre o que é um zoológico diverge frontalmente daqueles que acham que o local não passa de um grande jardim de bibelôs. Um zoológico deveria ser um fabuloso centro de pesquisas voltado para questões como a ambientação dos animais, o aprendizado para a população e, sobretudo, a reprodução em condições de cativeiro. Na ausência desta última, no meu modesto entendimento, perde-se, senão todo em grande parte o sentido de se manter estruturas tão grandes e, certamente, dispendiosas.

Essa é a deusa romana Diana, relacionada à Ártemis na mitologia grega É a deusa da caça, filha de Júpiter e Latona, irmã gêmea de Apolo.A reprodução em cativeiro de espécies silvestres é, por vezes, tremendamente difícil. Vide o caso dos pandas, onde aparentemente a China vem evoluindo significativamente nesse quesito. Iniciativas como essa, independentemente da espécie de animal silvestre em tela, contribuem para a manutenção de espécimes em cativeiro já melhor adaptados e, mais do que isso, proporcionam a fantástica chance de reintroduzí-los em seu habitat natural, caso já não esteja totalmente destruído pelo homem, ou então em um novo ambiente protegido por Lei. Dessa forma, trazemos um significado mais útil – por que não dizer humano? – para esses seres cuja triste sina é viver em confinamento. Com seriedade, amor e competência podemos retirar uma espécie do hall intitulado “ameaçados de extinção”.

Pois bem, como cidadão carioca fui, com minha Família e por insistência do meu filho caçula, ao Zoológico do Rio neste último final de semana. Ele fica localizado no interior da Quinta da Boa Vista, no bairro de São Cristóvão, aqui na Cidade Maravilhosa. Já o conhecíamos (eu desde muito pequeno) e também ao Zoológico de São Paulo, este bem maior e muito melhor estruturado, embora o chamado Zôo Safári tenha se mostrado bem caidinho no ano passado…

Zoológicos têm o poder de me deixar bastante amargurado. Sempre saio deles ainda pior do que entro. No caso do Zôo do Rio, muitos fatores negativos me chamaram a atenção, além da falta de educação do nosso povão. É deprimente ver certas atitudes da “galera”: gritaria, lixo aos quatro ventos, pipocas sendo arremessadas aos animais, etc. O lixo, inclusive, estava dentro de alguns ambientes destinados aos animais. Copos e canudos plásticos eram os itens mais vistos pelos jacarés. Impressionante. Mas não havia por lá vigilantes, funcionários ou algo semelhante? Sim, óbvio. Assistiam a tudo com olhar mais do que complacente.

Avestruz curioso. Imagem feita em 25/02/2012.

Voltando para os animais, os curiosamente chamados de irracionais, que já vivem em espaços muitíssimo aquém de suas necessidades (os gaviões e macacos são um escândalo há anos), dá para entender um possível stress tendo em vista a turba aglomerada em sua frente, com crianças berrando, mães pedindo para os pais fotografarem, flashes explodindo, o famoso “Ei, ei! Olha prá cá!”… Coitados dos leões e dos tigres, os bichos sofriam. Deve ser algum resquício de Coliseum no inconsciente coletivo ou coisa do gênero.

A quantidade de ambientes – se é que posso chamá-los assim – em manutenção chamou a atenção de quem foi lá com o raciocínio em perfeito funcionamento. Quando algo está em manutenção, diz o bom senso que alguma intervenção está em andamento. A única coisa que crescia a olhos vistos nesses espaços era a vegetação, o que demonstrava, a quem quisesse ver, um crônico estado de abandono.

Após rodar por toda a área interna e já próximo da saída (a tristeza batendo cada vez mais forte), nos dirigimos para a passarela do “semiconfinamento”, onde os sortudos animais que ali foram parar teriam, enfim, um espacinho a mais para não correr o risco de terem seus músculos atrofiados. A falta de manutenção era tão visível, que a impressão que tínhamos era de que não havia terra para que os bichos pisassem, só fezes e lama.

No final do corredor, pensando que aquele sentimento de desilusão total estava próximo ao fim, verificamos outro grande espaço “em manutenção”, repleto de vegetação em seu interior, ao lado do aquário. Pessoal, não é bem aquele aquááário. Quem já visitou o Aquário de São Paulo (olha aqui a comparação de novo – não é de propósito, juro!) vai entender o que estou falando. Num ambiente pra lá de lúgubre, estavam aquários com espécies diversas, alguns sem identificação nenhuma, outros com identificação equivocada. Espécies de grande porte, originárias da Amazônia, enfrentavam, como os “colegas” da área interna do Zôo, o massacre de estarem em ambientes muito pequenos.

Não acabou por aqui… infelizmente. Para completar nossa visita avistamos, ao sair do aquário, um outro espaço, este próximo à estação de reuso de águas. Poderia ser facilmente confundido com um sanitário, não fossem as descrições “entrada” e “saída”. Aproximamo-nos do lugar e vimos, já em seu interior, que lá havia outro aquário. Seria até grande se não comportasse uma magnífica tartaruga de pente, aquela mesma que os integrantes do Projeto TAMAR dizem se tratar de uma espécie altamente ameaçada de extinção. Ela estava lá, sozinha, com uma pedra fazendo a ornamentação de seu ambiente. Isso mesmo, uma pedra!

Consegui voltar para casa, com a alma pesada, a cabeça doendo e os pensamentos a vagar num mar de consternações. Meus filhos ainda não entendem, obviamente, a dimensão desse estrago todo, dessa série de equívocos que não dizem respeito a apenas um zoológico, mas de muitos outros por aí, no Brasil e fora dele. Fala-se tanto em consciência ambiental; resta-nos colocá-la em prática.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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4 respostas para SOS Animais Silvestres

  1. Rebeca Paschoal disse:

    Nossa, tio, faz muito tempo que não entro em um zoológico, justamente pelo fato de me sentir péssima com os animais vivendo presos e sendo expostos, acredito que a felicidade, que uma vida boa é a liberdade que proporciona, mas nunca pensei que pudesse estar pior do que quando fui. Com tanta evolução – principalmente na tecnologia, que hoje tem papel fundamental na vida de todos e, porque não, em uma monitoração e manutenção dos animais e dos seus habitats, não é mesmo?! – como podem deixar seres tão magníficos viverem assim? Para responder isso eu teria de entrar na economia do Município e demostrar toda minha indignação quanto a isso, saindo, assim, do meu propósito nesse comentário.
    Gostaria de dar os parabéns, está postagem nos abre os olhos, mesmo que entristeça a alma, e nos convida para a luta. As pessoas ainda veem o ser humano como um ser superior as outras raças e pouco se importam com os animais, sem falar na natureza. Precisamos mudar isso! O engraçado é que justamente o “ser pensante” é o causador de desmatamentos, extinções, mudanças climáticas… quando devia ser o guardião de todo o meio.
    Bom, meu tio, continue escrevendo em defesa dos animais, assim, se cada um que ler se conscientizar, terá feito um papel muito bonito e importante.
    Um beijo.

    • Mauro Blanco disse:

      Fantástica sua colocação em relação ao “ser pensante” e a necessidade dele atuar como guardião. Já dizia o grande Francisco de Assis: “Todas as coisas da criação são filhos do Pai e irmãos do homem… Deus quer que ajudemos aos animais, se necessitam de ajuda. Toda criatura em desgraça tem o mesmo direito a ser protegida.”

  2. Nilma Caldeira disse:

    Mauro, após tanta notícia MARAVILHOSA!!! fica minha tristeza…
    Parabéns por detalhar com tanta precisão a degradação do famoso Zoológico do nosso Rio de Janeiro. Onde estão as autoridades responsáveis pelo ZOO?
    Fica registrado aqui minha indignação!!!!

    • Mauro Blanco disse:

      Minha cara Nilma, mudou a gestão municipal e… tudo continua na mesma! Uma lástima. Falta competência, iniciativa, boa vontade e, sobretudo, amor e respeito aos seres vivos que lá estão presos.

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