Sobre a pena capital

O país vive forte comoção na atualidade, causada pelo estupro de uma jovem aqui no Rio de Janeiro, num bairro da Zona Oeste. Antes de mais nada, é importante ressaltar que quem comete estupro pode até ser desequilibrado, um ente à margem da sociedade, alguém que não teve oportunidades na vida, um cidadão que sofreu trauma na infância e outras tantas coisas, mas o fato inexorável é que, independentemente de alguma questão abraçada pelos ditos direitos humanos, religiões ou ideologias baratas, o praticante do ato é um criminoso. Ressaltando-se que estupro é considerado crime hediondo, mesmo sem morte ou grave lesão da vítima.

No caso recente da jovem, que ainda está sendo investigado, aparentemente foi um estupro coletivo onde pelo menos três dezenas de criminosos participaram da barbárie. Escutei ontem, num noticiário veiculado por rádio, que atrocidades assim não são coisas tão raras nas comunidades, notadamente quando a “mulher” do traficante é considerada traidora. Situações semelhantes ocorrem na Índia, onde tribunais populares condenam mulheres a se submeterem a essa monstruosidade. Lá, a prática hedionda já foi até registrada dentro de um ônibus no ano de 2012, em Nova Déli, onde estudante de 23 anos foi violentada e morta. Mukesh Singh, um dos estupradores indianos preso, disse que “uma garota decente não sairia por aí às 21h”, e que “nós queríamos ensinar uma lição nela.” Completou, dentro do que preceitua essa cultura estúpida do estupro (contumaz em culpabilizar a vítima), que “ela deveria ter ficado em silêncio e aceitado.”

Há necessidade de voltarmos à discussão da pena capital, também conhecida como pena de morte, para os crimes hediondos. É assunto pra lá de controverso, diga-se de passagem. Não obstante o fato do sistema prisional brasileiro estar muito mal das pernas, hoje e sempre, e de que as cadeias não ressocializam ninguém, o sentimento de impunidade, provocado pela nossa legislação leniente, parece-me formar um perigoso caldo de cultura para toda a sorte de crimes, incluindo os hediondos. Até quando a sociedade terá de pagar para manter um condenado por crimes desse naipe na prisão? Até quando teremos de observar com assombro esses monstros serem soltos prematuramente por conta da esdrúxula progressão de pena? Até quando vamos empurrar esse assunto para debaixo do tapete? Até quando lamentaremos?

Que fique claro que os crimes hediondos estão relacionados à perversidade e ao desprezo à vida alheia. Nada justifica um crime hediondo, nada. Logo, se os autores negam a humanidade de suas vítimas, não há razão para continuarmos os tratando como humanos. Simples assim.

Carlo Arruda Sousa, advogado e técnico jurídico da Justiça Federal do Rio de Janeiro, em artigo que trata sobre defensores e opositores da pena de morte, diz o seguinte: “Não se pode aceitar que um assaltante, de arma em punho, decrete, arbitrariamente, inapelavelmente, a pena de morte à vítima e nos tribunais seus direitos sejam preservados. Manter intacta a vida de psicopatas equivale ao sacrifício de muitos inocentes. Para casos de caráter extremamente ofensivo ao corpo social, excepcionais, é passível de crítica o fato do país ter erigido em preceito constitucional a inaplicabilidade da pena capital.”

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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2 respostas para Sobre a pena capital

  1. Manoel Antonio Silva Pereira disse:

    Boa tarde, amigo Mauro.
    Infelizmente nossas leis e omissão dos politicos levou ao estado atual que vivemos. Enquanto a Lei for fraca, os delinquentes serão fortes. A mesma sociedade(parte) que repudia tais práticas, antipatiza com a pena de morte ou prisão perpétua. Este contra senso inibe o avanço do diálogo sobre penas mais severas.
    Enquanto não se discutir com seriedade a questão meninas como essa e com a da linha amarela se multiplicaram nos noticiários.
    Que Deus se compadeça de nossa nação!
    Um abraço.

  2. Carlos Alberto Azeredo disse:

    Prezado Mauro,
    Em passado remoto, o homem se juntou em grupos objetivando maior segurança e, consequentemente, a garantia de perpetuação da espécie. Naturalmente, a vida em sociedade impõe aos seus membros abrir mão de algumas liberdades. E assim vivemos felizes por centenas de anos.
    Hoje, noto que o excesso de liberdade e de “direitos”, paradoxalmente, constituem um retrocesso e estão levando a nossa sociedade ao caos, situação que justifica iniciarmos discussões sobre temas como o tratado em seu texto, em particular para que não sejamos vítimas de aventureiros.
    Parabéns pela iniciativa!

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