Sabemos votar?

Não tenho dúvida de que a força do voto é capaz de sanear radicalmente o mar de lama institucional no qual atolamos. O problema é que o brasileiro não sabe votar ou não vê grande relevância em exercer sua cidadania ao eleger alguém, que no caso será seu representante durante um certo período. Claro que o desinteresse vem a reboque dos inúmeros absurdos que são estripados diariamente da cena política pela nossa valorosa Imprensa, que desempenha função vital nesta democracia tupiniquim que teima em não sair da adolescência.

Vivemos em momento, no mínimo, curioso de nossa história. A inversão de valores é patente. O certo vira errado, o honesto passa vergonha ou é discriminado, não se vê nada… não se sabe de nada… e a certeza da impunidade faz com que meliantes debochem constantemente da sociedade e saiam das grades, quando porventura para lá são direcionados pela Justiça, com rapidez fantástica. Claro que isso ocorre com os bandidões, aqueles que possuem polpudas contas bancárias e influência na “alta roda”, seja ela qual for. Com os pés-de-chinelo a trajetória tende a ser mais dificultosa, obviamente.

Nesse quadro não muito animador, aproximamo-nos de eleições municipais. É fundamental que saibamos minimamente, pelo menos, em quem vamos votar. Quem ele(a) é? O que fez em prol da coletividade? Quais são suas propostas? Essas são perguntas simples que devem ser respondidas, senão diretamente pelos candidatos, através de pesquisa do eleitorado, nossa. Dá trabalho? Claro, mas com isso faremos algo em consonância com nossas aspirações em mudar, em ver o país progredir, sem ilusões ou exacerbadas emoções e, o que é igualmente valioso, com menos influências externas.

Não podemos direcionar nosso voto para candidatos que gastaram fortunas de origem duvidosa e têm estampado seus sorrisos em “zilhões” de outdoors espalhados por aí, se praticamente nada sabemos sobre eles. Alguns tentam a reeileição. Vereadores fizeram algo de verdadeiramente relevante enquanto exerceram o mandato ou apenas se aconchegaram ao Executivo lhe oferecendo apoio nas Casas Legislativas em troca de benesses? Bom, quando é só isso, menos mal cheiroso, mas quando se metem em licitações diversas para favorecer os amiguinhos na busca de interesses escusos, aí a coisa começa a gangrenar na velocidade da luz.

Há gente que já tem caminho aberto na mídia há algum tempo fazendo a maior e mais descarada campanha fora do prazo estipulado pela Legislação Eleitoral. São concursos fajutíssimos, programinhas quase circenses na televisão e no rádio, e outras baboseiras apenas para aparecer bem na “fita” e manter o eleitor atento para que não esqueça dos seus rostinhos. Comovente, não? No meio dessa confusão, há ainda falsos religiosos, empresários muito bem sucedidos, ex-jogadores de futebol, os que defendem a liberação de drogas… tem de tudo tentando chegar lá, cada um puxando a sardinha, e o eleitor, para o seu lado. Pior ainda – é possível, acredite! – são os candidatos que se utilizam de organizações criminosas para amedrontar os cidadãos e “solicitar” votos. Incrível este nosso Brasil, não?

Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem”, já dizia Bertold Brecht, influente dramaturgo, poeta e encenador alemão que viveu entre os anos de 1898 e 1956. Olhando ao redor, e em todos os níveis, talvez seja esse o alto preço que estamos a pagar pelo nosso despreparo.

Segue, abaixo, um vídeo muito interessante que faz parte de uma iniciativa denominada “Ranking dos Políticos“. O movimento não pertence a nenhum partido político ou grupo de interesse e tem como objetivo ajudar as pessoas a votar melhor e colocar para fora de cena os bandidos da política brasileira.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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7 respostas para Sabemos votar?

  1. RALPH MULLER BRAZIL disse:

    Perfeito o seu comentário, muitíssimo interessante! O voto é a resposta do povo aos nossos futuros representante, seja em esferas Federal, Estadual ou Municipal. Entretanto, com todo respeito, nós brasileiros que somos não temos memória política, não pensamos politimente, não argumentamos politicamente, não idealizamos na política, não aspiramos política, não entendemos política, não temos um senso crítico político “sabemos críticar negativamente”, nossa cultura política baseia-se em votos, nossa sociedade gasta política de botequim e assim caminha os brasileiros!
    Infelizmente nossa sociedade esta dividida em níveis de entendimento de política e voto muito complexos. A classe pobre esta afundada na degradação social cultural e econômica que não permite ou impede o conhecimento, discernimento e clareza em que voto e em quem voto. Quem vai me favorecer e quem vai ser o meu padrinho!
    A classe média, muito esclarecida, porém mergulhou-se característicamente reticente “omisso e com medo de errar” dúvida do voto e se perde nas manchetes de última prestação política, manipulada pela TV e na hora do voto certo…………
    A classe alta dividida em aproveitadores e interesseiros que detem todo o poder em prol do dinheiro e conhecimento.
    Há quem se salve neste País, há justos e justiça! Há ainda poucos que conhecem o que é política, como fazer política, voto consciente e a importância do conhecimento dos partidos, dos militantes, da política do partido e dos preceitos do partido. quanto, assim chegarmos a este entendimento o voto deixará de ser um problema e passara a ser um privilégio de todo.
    Ralph Muller Brazil.

  2. Adolfo Estrada. disse:

    Salve meu amigo! Sábias palavras.
    Antigamente os políticos se corrompiam por dinheiro. Hoje não, o câncer esta tão enraizado que, o roubo já vem automaticamente, o que eles querem é poder, se consideram os donos do país, logo, os nossos donos. Salvo exceções!
    Estamos vivendo hoje a época de Robin Hood, só que, infelizmente, sem Robin Hood, pelo menos ele tirava dos ricos, os “donos da lei”, e dava para os pobres, o povão, que eram acharcados com impostos absurdos, serviços nenhum, respeito nenhum (caramba!!! Parece que estou falando dos nossos dias!!!).
    É claro que não queremos resolver o problema fazendo o que eles fazem, ao seja, roubando! Até mesmo porque não vivemos uma fábula, muito pelo contrário, o que vivemos é um pesadelo que só vai acabar quando o povo brasileiro tiver consciência da sua força.
    Um grande abraço.

    Adolfo Estrada.

  3. jeronymo_machado disse:

    MUITO BOM BLANCO, O NOSSO SILÊNCIO É O COMBUSTÍVEL DA MÁ-FÉ!

  4. IVAN MAURICIO SOARES ANDRADE disse:

    Suas palavras representam o seu preparo moral e intelectual Mauro, entretanto, já algum tempo passei a buscar no meu universo indagativo, resposta para tão notoria amnesia coletiva, e comecei a sentir um certo desconforto sempre que ouço a cobrança que se faz so-
    bre o eleitor. Nao me parece nada facil aceitar que haja tanta alternativa para escolhas, candidatos que nos apresenta puros e altruistas como penso que seja o seu caso, isso em funçao do excelente convivio que tivemos, e das oportunidades que tive para avaliar sua conduta, civica moral e intelectual, onde, juntos servimos a Patria por dois anos nos idos tempos do IBEx, haverao de iniciar sua jornada politica dentro de um dos partidos existentes, que por principio, já sao montados não para defender a democracia, para buscar o que esses canalhas por voce tão bem ilustrado, estão ha longos tempos praticando. Portanto, sinto como que injustiçando, grosso modo, o eleitor que fazem suas escolhas por algum dos seus motivos. Basta buscar no elenco dos parlamentares quantos estão desse seu lado ou do lado dos que voce e nos outros combatemos com e-mails e conversas ao pe do ouvido. Portanto, minha artilharia esta voltada contra o sistema politico, a organização dos partidos, as normas, tudo foi montado para ter esse resultado.. As vezes me encontro pensando o que acontecerá a um idealista quando deparar com a realidade das lides na legislatura? Pior é que nos anos passados, a crença de que o socialismo poderia ser uma solução, e esse pensamento ja trazia consigo uma economia de pensamento e atitudes, pois ja descrevia como deveria ser as coisas, ficou facil para as massas aderirem e se mobilizarem, portanto, ainda que para nos esse movimento nao interessasse, ele se articulou e tomou frente aos abusus que existiam nas esferas da democracia…. Nos que vivemos aquele momento vimos o que aconteceu e sabemos que os problemas morais da epoca eram bem menores, e o povo foi a rua e pediu por mudanças. Hoje, nada vemos acontecer de organização social para tal, alem dos emails e dos belos textos das cronicas.. E, nos surpreende ver aqueles que clamaram, contestaram, mataram e foram tambem castigados assistir e fazer isso tudo, como se sua historia realmente nao merecesse ser validada. Ainda que eu na epoca não tivesse simpatia por esse movimento, hoje talvez eu os acolhece por pertinencia de pensamento. Ou seja meu dileto e distinto amigo, eu hoje penso que os partidos, os sindicatos, as associaçoes nao estao buscando idealistas para seus quadros, logo o povo terá muito pouca chace de acertar.

    • Mauro Blanco disse:

      Caro Maurício, por questões que fugiram ao meu controle, não virei mais candidato a Vereador pela Cidade do Rio de Janeiro neste ano de 2012. Conversaremos, em momento oportuno, a respeito. Concordo com você em gênero, número e grau: nosso sistema político está falido!

  5. Concordo inteiramente com tudo o que disse, e poderia assinar embaixo com o brado de ‘DESISTIR – JAMAIS!’, pois assim como você sou dos que conseguem enxergar que só honestamente os nossos políticos nos darão os serviços que merecemos.

    Aliás, merecemos não, trabalhamos por eles, pagamos por eles e também assim agiram nossos pais, nossos avós e até onde sei, também nossos bisavós já traziam na sua cultura a idéia de que enquanto um ser humano roubar a outro, não haverá mesmo a tal paz na Terra.

    Parabéns pela postagem. Lucidez e cidadania, quanto mais compartilhado, melhor.

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