O avanço do crack

Cidade maravilhosa,
Cheia de encantos mil!
Cidade maravilhosa,
Coração do meu Brasil!

Esse é o início da marchinha mais tocada no Carnaval carioca em todos os tempos: Cidade Maravilhosa. Foi composta por André Filho e executada pela primeira vez no ano de 1935. Claro que à época visava enaltecer as belezas naturais de nossa Cidade, cartões postais conhecidos e admirados, ainda hoje, em todo o mundo.

O paradoxo vem com a triste imagem acima, feita hoje por volta das 10:15 horas, com o meu celular, quando me deslocava da Zona Oeste para a Zona Sul. Havia, embaixo do viaduto da Avenida Brasil que dá acesso à Ilha do Governador, um grupo de dezenas de usuários do crack, mais uma droga que veio para destruir gerações, desta vez em alta velocidade.

Lá estavam os chamados “cracudos”, fumando a pedra sem o menor constrangimento, já absortos naquele estado onde não possuem mais noção do perigo e nem da realidade. Uns atravessavam aquela via de intenso tráfego indo em direção à favela Parque União, ali bem próxima, outros faziam o inverso. Aos motoristas restava ter muita atenção para não atropelá-los e, também, para não sofrer um assalto e/ou uma agressão.

Estamos assistindo o resultado do espanador que o Poder Público utilizou para retirar essas pessoas dos pontos concentrados onde estavam. Como a política de acolhimento e tratamento dos viciados é claramente deficitária, tapa-se o sol com a peneira e o resultado é esse mesmo: pulverizaram-se os usuários. Algo semelhante ocorre com a iniciativa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas, ou alguém pensa que os bandidos se convertem em religiosos fervorosos quando o território deles é tomado pelo Estado? Se não permanecem fazendo o que sempre fizeram, respeitando o armistício prévio e sem ostentar metralhadoras/pistolas/granadas no local, vão “aprontar” em outro lugar. Simples assim.

Voltando ao crack, a Imprensa vem mostrando diariamente essa verdadeira epidemia que assola o país. A sociedade acompanha as notícias com um misto de assombro e apatia. Vimos perdendo identidade e motivação nos últimos anos. Não só as drogas, aparentemente, entorpecem os brasileiros. Ouvi hoje no rádio que um em cada quatro compatriotas não entende que subornar um policial deva ser considerado ato de corrupção. Isso é grave, minha gente, tão grave quanto o alastramento do uso das drogas entre nós.

Utilização de milhares de pedras não impedem a instalação de barracos. Imagem de 06/05/2019.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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8 respostas para O avanço do crack

  1. Alvaro Carvalho disse:

    O aumento da produção de cocaína na Bolívia, o preço baixo e a facilidade para preparar e vencer transformaram o crack em uma das drogas mais consumidas no País e num dos mais delicados problemas da Saúde pública nacional. Tornou-se uma das maiores preocupações da sociedade.

  2. cleomar disse:

    Triste realidade, quando vejo á vagar pelas ruas, jogando suas vida fora me dá uma tristeza enorme e me pergunto: Onde iremos chegar e de que forma resolver um problema social que nosso Estado quiçá o Brasil está vivendo?

  3. Rebeca Paschoal disse:

    Ultimamente fala-se muito dos usuários de craque e a política ineficiente do atual governo de retirá-los de onde estão concentrados.
    Escutei muito que eles são vagabundos, drogados, bandidos… é uma verdade que tornaram-se tudo isso sim, mas será que alguém parou para pensar o porque dessas pessoas (lembrem-se, eles são tão seres humanos quanto nós) estarem vivendo desse jeito?
    O que leva um ser humano a viver assim? Falta de oportunidade talvez? Será que o uso do craque não é uma fuga da vida miserável que levam? Da prostituição imposta? Da fome? Do frio?
    O que leva essas pessoas serem tão diferente de nós?
    Trata-se de uma resposta simples, vivemos em um mundo capitalista, desigual, manda quem tem poder e esse se resume a dinheiro.
    Onde uma criança nascida na rua, filho de moradores de rua, terá a mesma oportunidade de vida que eu, por exemplo?
    Não adianta trancafiá-los em cadeias ou clínicas, o problema é muito maior que “limpar a cidade”, ele se encontra nos primórdios da sociedade, na criação da mesma, na divisão das classes.
    Tirar um drogado de um lugar e jogá-lo em outro não é a solução. Qual será o próximo passo? Uma cadeia para “cracudos”, um genocídio?
    Bom, vamos refletir sobre tudo que o país vem vivendo!

    • Mauro Blanco disse:

      ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
      (Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990)

      Título I

      Das Disposições Preliminares

      Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

      Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

      a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

      b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

      c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

      d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.

      (Taí a prova de que o papel tudo aceita)

  4. andré luiz macedo disse:

    A mídia, de um modo geral, informa que nós brasileiros não desistimos nunca. Será mesmo verdade esse bordão? Parece que essa informação nada oficial é apropriada para que o país continue sendo governado dessa forma. Em conversas informais percebe-se claramente o oposto, principalmente quando o assunto é o crescente aumento de usuários de crack. É desanimador. Parece que somente o Governo acredita em melhorias. Porém, estamos distantes de tais objetivos. Não existe um projeto a longo prazo, ou melhor, existem vários e vários projetos. Aliás, somos especialistas em projetos. Concluí-los é o grande desafio. Questões jurídicas, burocráticas, financeiras, políticas… Quanta confusão. Enquanto isso, percebe-se, visualmente, essa crescente epidemia.
    O Governo Federal lançou uma campanha em 2011 contra o consumo do crack. Foram anunciados R$ 4 bilhões, menos da metade foram investidos, segundo reportagem do Bom Dia Brasil da Rede Globo, exibida em 16/07/2013. Conforme citado anteriormente, o programa ou projeto foi lançado, concluí-lo é.o grande desafio.
    Será que vale a pena acreditar?

    • Mauro Blanco disse:

      Dentre outras mazelas, vivemos uma crise de gestão, caro André. Basta dar uma olhadela no que está sendo feito com a nossa Petrobras, para citar apenas um exemplo. A incompetência corre solta e está levando o país a um precipício. Salve-se quem puder!

  5. Helena disse:

    Fiquei chocada… não consigo parar de pensar naquelas pessoas… e não só lá, por toda a cidade…

    • Mauro Blanco disse:

      Prezada Helena, entra ano e sai ano… a situação só piora! Passo sempre pela Av. Brasil e sinto até vergonha. Os governos estadual e municipal pouquíssimo ou nada fazem para reverter aquele triste quadro. Temo que em breve nosso Brasil se torne um país “walking dead”, tamanha a quantidade de gente drogada que perambula pelas ruas diariamente. E tem muita gente querendo a liberação das drogas…

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