E a reciclagem, como fica?

Encontrar algo útil e esclarecedor sobre reciclagem em sites governamentais é trabalho árduo. Além da falta de informações a respeito, fica a certeza de que continuamos, pelo menos aqui no Estado do Rio de Janeiro, tratando do assunto como se ele não fosse de extrema importância para o futuro das cidades. Sim, porque sabemos que com a crescente geração de resíduos, resultante das atividades humanas nos territórios habitados, os aterros sanitários não suportam por muito tempo o despejo de material que poderia ser reaproveitado, e, dessa forma, acabamos por reduzir drasticamente sua vida útil. Note-se que há recicláveis que demoram a se decompor no ambiente, alguns por centenas ou milhares de anos, ocupando espaço precioso nos aterros (vídeo no final).

Em trabalho publicado no ano de 2014 pela Nova Economia, revista vinculada à Universidade Federal de Minas Gerais, demonstra-se que o descarte inadequado dos resíduos sólidos urbanos ainda é um desafio às políticas públicas de gestão ambiental no Brasil. Em nosso país, segundo a pesquisa, 64,6% do lixo coletado tinha como destino final, em 2008, os aterros sanitários, sendo que 33,3% do lixo produzido no país, naquele mesmo ano, possuía destinação inadequada. Será que houve melhora significativa desde então?

Quanto à utilização de técnicas de reciclagem e compostagem (um tipo de reciclagem do lixo orgânico) na destinação do lixo, o Brasil aparece com 11%, na frente de Portugal (7%), Argentina e Colômbia (ambas com 5%) e Hungria (2%), por exemplo. Quem desponta mundialmente é a Suécia, alcançando a marca de 43%. Aqui, a medalha de ouro dos recicláveis vai para o vidro (57%), a prata vai para o alumínio (16%) e o bronze para o material ferroso (13%). Esses três itens, seguidos pelo plástico e papel/papelão, apontam-nos para o forte potencial econômico que a reciclagem representa à sociedade brasileira, isso sem falar nas questões ambientais, evitando a extração de matéria-prima e a contaminação do solo e das águas com os resíduos.

Ainda garimpando na internet à procura de dados, agora voltados exclusivamente para as terras fluminenses, verifiquei que mais de metade dos noventa e dois municípios do Estado não tinham estabelecido a reciclagem como rotina da limpeza urbana, contrariando o que preconiza a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), criada através da Lei nº 12.305/10. A coisa vai tão mal, que numa publicação recente do jornal O Globo há um alerta sobre o município do Rio de Janeiro, capital do Estado e o mais populoso, já que ele está engatinhando no que se refere à reciclagem do próprio lixo: apenas 1,9%. Se nessa cidade, outrora maravilhosa, está desse jeito, sofrível, imaginem as demais. No Rio há somente duas centrais de triagem, nos bairros de Bangu e Irajá, construídas, diga-se de passagem, com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), e que trabalham muitíssimo aquém de sua capacidade.

E enquanto assistimos essa inoperância toda, eis que vem, novamente, o Governo do Estado a editar mais uma daquelas leis que conhecemos, ao melhor estilo “o primeiro Estado a implementar tal coisa”, “a grande novidade”, etc. Agora, seguindo o exemplo da Lei 7.194/16 – lembram-se? – aquela das carroças, temos a Lei 7.313/16, que prevê o reaproveitamento de guimbas de cigarro (conhecidas como bitucas em outras regiões do país) para a geração de papel. Trata-se de mais uma legislação engendrada na famosa Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (ALERJ) por um excelentíssimo Deputado Estadual. Ora, caro parlamentar, se nem o básico estamos conseguindo fazer, onde as guimbas entrarão nessa história? Melhor, antes de tudo e tendo em mente os efeitos deletérios do fumo à saúde, seria elaborar e/ou promover políticas antitabagistas, não é verdade?

Fumaça à vista…

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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6 respostas para E a reciclagem, como fica?

  1. Boa tarde. Meu amigo Daniel falou muito sobre sua pessoa. Tem meu apoio.

  2. Maria Cristina Sampaio disse:

    Muito interessante! Já compartilhei.

  3. Daniel N Faria disse:

    A Sociedade precisa atentar as ações no objetivo de alcançar o desenvolvomento sustentável, buscando o equilíbrio com o meio ambiente.

  4. Myro da Silva Fonseca disse:

    É realmente incrível! Saúde e Meio Ambiente é o grande lance do momento, de Estocolmo/72, a Rio/92, muito se avançou em estudos e pesquisas mas, pouco ou muito pouco se avançou. Já existem muitos discursos acerca do tema porém, ficam apenas no papel burocrático de um sistema corrompido. Assim, seu texto aborda e retrata nossa atual situação quando se fala em politica reversa e 3R”s. Onde há investimento em educação, saúde não podemos esperar muito dos atuais gestores. A educação ambiental é um tema sério e de investimento de médio longo prazo, mas também está apenas no currículo escolar. Fico muito feliz por ver em seus post essa preocupação com temas fundamentais a vida e a saúde do no planeta, parabéns! Espero ter de alguma forma realizado um comentário coerente.

  5. Carlos Alberto Azeredo disse:

    Prezado Mauro, como sempre, o tema em questão é absolutamente relevante e, infelizmente, não recebe a atenção que merece do poder público, não desperta preocupação em boa parte da população e é visto por muitas das cooperativas que se dedicam à reciclagem com fins exclusivamente econômicos, em particular quando há incentivos financeiros, públicos ou privados, que, como regra, são desviados antes de surtirem os efeitos desejados ao meio ambiente.

    Parabéns!

  6. Carlos Tadeu disse:

    Parabéns, Mauro, pela abordagem de um tema que cobra, acima de tudo, conhecimento científico sobre. Precisamos de pessoas preparadas em áreas de políticas públicas como a Saúde, por exemplo. A maior revolução que podemos fazer em 2018 é mudarmos os políticos da ALERJ por pessoas novas, preparadas e com caminhada no funcionalismo público. Os servidores públicos de todas as esferas estão clamando por políticos que olhem com humanidade para o contexto administrativo no qual estão inseridos. Vamos à luta!

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