Debate sem embate

Acompanhei ontem, confesso que já cansado pelo dia corrido que tive, o primeiro debate presidencial na TV em 2018. Vez por outra, preciso ser sincero, dava umas pequenas cambaleadas (não sou de ferro), quase sempre despertando meio sobressaltado por conta da estridente voz de comando de um dos candidatos, o Cabo Daciolo. Fez-me lembrar da época da caserna, quando, após minha formatura na Universidade Rural, fiz estágio de adaptação na Vila Militar do Rio de Janeiro e participava diariamente da ordem unida do 21º Batalhão Logístico.

Figura interessante ele, não? Ocorre que em determinados fóruns devem ser evitadas várias posturas, mesmo porque os adversários, no caso do debate, podem aproveitar todas as situações para baixar a lenha ou, como também ocorreu, para ironizar ou mesmo embaraçar o concorrente. Ninguém que tenha chegado ali é ingênuo, obviamente.

Falar alto demais, proferindo as mesmas coisas em todas as oportunidades que teve foi algo que soou meio patético, para ser o mais ameno possível. Citar Jesus Cristo à exaustão não me pareceu uma boa estratégia do candidato. Claro que ele tem todo o direito de exteriorizar que é religioso, mas a repetitividade e a insistência de certas frases podem caracterizar um certo oportunismo, uma fuga, ou até mesmo um desrespeito. Claro que cada um tem sua opinião sobre isso, e eu aqui estou apenas expressando o que sinto, mas que fique claro que religião não é salvo-conduto, não é certidão de bons antecedentes e não é declaração de idoneidade, seja ela qual for, cristã ou não. Importante mesmo é a conduta da pessoa perante a própria família e o seu comportamento enquanto cidadão ou cidadã. Cada um que siga (ou não) uma crença, que seja feliz, que aja dentro dos ditames da Lei e que, se possível, ajude a quem necessite dentro de suas possibilidades.

Bom, para que o folclore fique completo, sugiro que as emissoras de televisão deem um jeito para, nas próximas oportunidades, convidar também o Eymael. Aí, sim.

Quando ao debate em si, achei-o morno. Francamente, pensei que os embates seriam mais intensos, principalmente por conta da presença de um trio “energético”: Guilherme Boulos, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes. O primeiro tenta se consolidar como uma liderança de esquerda, em minha opinião muito fraca, diga-se de passagem, mas os dois últimos mostraram um autocontrole que me impressionou. Perceberam que naquela oportunidade não poderiam atacar de peito aberto, e, tampouco, dizer alguns dos velhos impropérios que já se tornaram famosos nas redes sociais. Milhões de eleitores estavam assistindo, ora.

Uma questão importante, que foi debatida com alguma intensidade, tratou das alianças partidárias. Numa democracia, candidato que segue na linha da autossuficiência e insinua, mesmo que de longe, ser pouco produtivo conversar com o Congresso Nacional não permanecerá no Poder por muito tempo. Collor e Dilma estão aí – um infelizmente na vida pública, ainda – para não me deixar mentir. Há uma penca de partidos, sim, muitos deles de aluguel. Uma grande reforma política tem de ser deflagrada assim que viável para corrigir essa aberração, mas o futuro Presidente terá de interagir, obrigatoriamente, com a Câmara dos Deputados e com o Senado Federal. Isso não quer dizer, claro, que deverá se curvar ante os corruptos e as falcatruas, mas sim valorizar os melhores quadros de cada partido político que dará sustentação ao seu Governo. É assim que a banda toca, ou deveria tocar.

Geraldo Alckmin, Marina Silva, Jair Bolsonaro e Ciro Gomes foram, pelo que avaliei, os que se saíram melhor. Henrique Meirelles já carrega nas costas a rejeição monstruosa de um governo repleto de suspeições, não acredito que decole, e Álvaro Dias, que é um camarada inteligente e tem vasta experiência político-administrativa, se mostrou um tanto desorientado, mandando a população “abrir os olhos” a todo instante e lembrando que fará(?) um convite ao juiz Sérgio Moro para assumir o Ministério da Justiça. Entendo que Moro contribuirá ainda mais com o país permanecendo justamente onde está, em Curitiba.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
Esta entrada foi publicada em Política e marcada com a tag , , , , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

4 respostas para Debate sem embate

  1. Roberto Guimarães disse:

    Assino em baixo esse texto. Perfeita a sua análise .

    • Mauro Blanco disse:

      Obrigado, querido amigo Roberto Guimarães. Vamos acompanhar esses candidatos de perto. Não podemos, na atual conjuntura, dar-nos ao luxo de errar a escolha.

  2. Matheus Tito disse:

    Perfeita análise! Eu só não entendi muito bem algumas coisas que o cabo Daciolo citou como a “ursal”, mas talvez seja pela minha juventude e falta de entendimento político.

    • Mauro Blanco disse:

      Caro Tito, não se preocupe pois nem o Ciro Gomes, para quem ele direcionou a pergunta, entendeu. Para saber um pouco mais sobre essa tal URSAL, que seria um devaneio das esquerdas nossas e as dos nossos vizinhos, a “União das Repúblicas Socialistas da América Latina”, clique aqui. Em suma, alguns malucos querem recriar por aqui algo semelhante ao que ocorreu com a extinta União Soviética. Lá não deu certo, aqui também não daria.

Deixe uma resposta para Mauro Blanco Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *