Carreata do desrespeito

Vez por outra vamos a Seropédica, município vizinho ao nosso, para visitar os parentes de minha esposa que lá vivem. Hoje, por grande azar, fomos surpreendidos na estrada BR-465 por uma carreata liderada por candidato a prefeito que disputa a reeleição. Formou-se um gigantesco engarrafamento. A carreata era formada por centenas de veículos, aparentemente representando todos os candidatos a vereador da coligação de partidos políticos que apoiava o postulante à prefeitura daquela pequena cidade. Fogos de artifício e carros de som permeavam todo o trajeto. Não tinha para onde escapar, infelizmente.

Carreatas, ainda mais em período eleitoral, são relativamente comuns, mas o que se configurou, em minha opinião, foi um dos maiores desrespeitos ao direto de ir e vir que todo o cidadão possui. Para começar, nenhuma organização. Os carros trafegavam aleatoriamente, muitos pelo acostamento. Latas de cerveja eram passadas de um veículo para o outro e muitos deles, utilitários, carregavam ilegalmente várias pessoas em suas caçambas. Todos em efusiva alegria, em festa, parando de vez em quando para urinar no acostamento, ignorando que pessoas que não queriam participar daquele circo também estavam ali. Se a falta de respeito já inicia dessa forma, antes de alcançarem seus objetivos, com um mandato nas mãos…

Foram muitos quilômetros aturando música altíssima e um trânsito absolutamente caótico. Imaginem estar em um engarrafamento monstruoso e vários carros de som ao seu lado, com aquelas musiquinhas medíocres a estourar seus tímpanos. Imaginou o estrago? Conhecemos, na oportunidade, vários jingles dos aspirantes-a-político de Seropédica. A julgar pelos temas cantados, o município irá muito bem nos quesitos saúde e educação na legislatura vindoura.

A título de curiosidade, a BR-465, conhecida aqui por antiga estrada Rio-São Paulo, é mais um dos milhares de exemplos do abandono das vias públicas em nosso país. Há engarrafamentos homéricos por lá, alguns resultantes de acidentes, mas a maioria por excesso de tráfego, falta de infra-estrutura e ausência quase que absoluta de fiscalização policial (Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar). Alie-se a isso a grande falta de educação por parte dos condutores, que se utilizam do acostamento como uma segunda faixa de rolagem. Lá na frente, quando não há mais como seguir, esses “espertos” têm de voltar à estrada e, aí, a atrapalhação é geral. É sempre assim, há anos e anos.

Uma característica daquela estrada é a quantidade de quebra-molas, estruturas que chamam a atenção não apenas pelo número, mas também pela falta de padronização. Alguns são altos e tremendamente mal feitos, outros, desgastados pelo constante tráfego, são tão baixos que passam despercebidos. De qualquer forma, lá estão muito mais para facilitar a vida de bandidos, que se aproveitam da diminuição da velocidade dos carros para praticar toda a sorte de crimes, do que para educar os usuários das vias. Eu mesmo, há quase 10 anos, já fui assaltado lá, nas imediações do KM 40, por conta de um desses miseráveis quebra-molas. Levaram-me juntamente com meu carro e quase me mataram.

Entendo que a quantidade de quebra-molas, em qualquer que seja o local, é um claro indicativo de como anda a percepção dos motoristas em relação ao que os cerca. Quanto mais quebra-molas, maior a ignorância dos usuários das vias.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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2 respostas para Carreata do desrespeito

  1. Vandimar disse:

    Que bom Mauro, visitar o teu Home Page!

    É instrutivo, além de poder manter o contato… valeu mesmo, como sabe, hoje, estou atuando na Ouvidoria da PCRJ há quase dois anos (oficialmente). Tudo de bom para você e sua família.

    Em tempo, informo que a Valéria Gomes, hoje, postou no Face uma nota de falecimento de sua prima.

    Att.

    Vandimar

    • Mauro Blanco disse:

      É um grande prazer recebê-lo por aqui, meu amigo Vandimar. Estou na torcida por você nesse trabalho importante na Ouvidoria. Lembro-me com muita emoção da comenda “Amigo da Ouvidoria”, que recebi em 2004, tendo em vista a fantástica parceria existente entre a Ouvidoria Central da então SMS e a extinta Coordenação de Controle de Vetores. Vou verificar o Facebook da querida amiga Valéria. Um grande e fraterno abraço!

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