A marcha da extinção

Dentre todas as notícias ruins que estamos recebendo ultimamente, no início desta semana foi a vez do anúncio da morte, aos 45 anos, de Sudan, o último rinoceronte-branco-do-norte macho. Restaram duas fêmeas no planeta, e os pesquisadores tentam desesperadamente conseguir a fecundação delas com técnicas avançadas de fertilização in vitro. Enquanto isso não ocorre, vamos acompanhando com imenso pesar a extinção de mais uma subespécie desse animal (lembrando que uma das quatro subespécies de rinoceronte-negro foi, também, declarada extinta em 2011).

O rinoceronte-branco (Ceratotherium simum) é o maior dos rinocerontes. Consistia em duas subespécies: o rinoceronte-branco-do-sul, com uma população estimada em 21.077 indivíduos em 2015, e o rinoceronte-branco-do-norte, atualmente com apenas duas fêmeas. Foto: European Pressphoto Agency

Durante anos, a caça furtiva desses animais contribuiu para a sua iminente extinção, já que seus chifres alcançam uma cotação superior à do ouro nos mercados asiáticos, devido a supostas propriedades curativas e afrodisíacas. Das cinco espécies ainda existentes de rinoceronte, todas estão ameaçadas, mas o rinoceronte-de-sumatra, com população estimada em 100 exemplares, e o rinoceronte-de-java, com cerca de 67 exemplares, encontram-se em perigo crítico de extinção.

O rinoceronte-de-sumatra (Dicerorhinus sumatrensis) é a menor das espécies e a que tem características mais primitivas. Originalmente distribuído pelo sudeste asiático, foi dizimado, restando pequenas populações isoladas, na Indonésia e Malásia. Foto: Animal World

O rinoceronte-de-java (Rhinoceros sondaicus) é o mais raro, sendo encontrado apenas no Parque Nacional de Ujung Kulon, na ilha de Java, Indonésia. Foto: Animal Corner

Devido à caça predatória, desmatamento, efeito estufa e outros fatores, problemas normalmente causados pelos seres humanos, o equilíbrio natural está sendo paulatinamente modificado, e muitos animais – e mesmo vegetais – não têm resistido. Em relação aos animais, apesar de escutarmos sobre espécies extintas num passado longínquo, é importante ressaltar que alguns deles desapareceram oficialmente do planeta há bem pouco tempo. Importante destacar que o ser dominante da Terra, o Homo sapiens, iniciou sua trajetória por aqui há cerca de 350.000 anos, ou seja, vem exterminando espécies (inclusive a sua própria) de longa data…

Estamos vivendo um período de extinção em massa, conhecido também como “Sexta Grande Extinção” ou “Extinção do Holoceno”. Ao contrário das extinções em massa anteriores, como por exemplo a dos dinossauros, nesta o homem tem papel preponderante. Embora não façamos o estrago tão rápido quanto um meteoro, no transcorrer dos anos vamos mostrando, também, nossa força destruidora.

A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUNC em inglês) possui uma lista vermelha das espécies ameaçadas. Segundo a edição mais atual,  que já deve estar desatualizada, desde 1500, ano do nosso descobrimento, estão registadas as extinções de 897 espécies, das quais 763 são animais. Entre elas estão 145 aves, 79 mamíferos, 72 peixes, 36 anfíbios, 22 répteis e centenas de invertebrados (insetos, aracnídeos, moluscos, crustáceos, entre outros).

Impressionante, não? O pior é saber que a maioria dos animais extintos sequer entram nessa estatística por desconhecermos que eles existem e por insuficiência de informações. A destruição pode ser ainda maior do que as mentes mais pessimistas imaginam…

Sobre o Brasil, que possui aproximadamente 627 espécies de animais silvestres ameaçadas de extinção, peço a atenção de todos os que respeitam a Natureza e suas criaturas. Um projeto de lei (nº 6268/16) que tramita na Câmara dos Deputados quer alterar o Código de Caça, editado em 1967 e que proíbe a caça de animais silvestres em todo o território nacional, para regulamentá-la sob a alegação de que algumas espécies se tornaram pragas e com destaque para o abate de animais que ameaçam a pecuária. A propósito, o nobre parlamentar que encabeça essa ideia estúpida é da chamada bancada ruralista. Tá explicado.

Fontes: www.megacurioso.com.br, www.mundodosanimais.pt, www.bbc.com, Wikipédia.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
Esta entrada foi publicada em Educação, Natureza, Proteção Animal e marcada com a tag , , , , , , , , , , , , , , , , , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.

12 respostas para A marcha da extinção

  1. Carlos Tadeu disse:

    A bancada ruralista realmente é uma das materializações do atraso político desse país. Cabe ressaltar que esses (coronéis) estão no Poder Legislativo desde o Brasil Império. Amigo Mauro, sua bandeira política é atual, nobre e, acima de tudo, comprometedora com o social, ou seja, mais uma ideologia necessária a ser defendida na tribuna da nossa Casa (ALERJ). Rumo à vitória!

    • Mauro Blanco disse:

      Obrigado pelo incentivo e pelas suas observações, prezado Carlos. Certas “bancadas” nas Casas Legislativas são uma vergonha para a sociedade brasileira.

  2. Marcia Fajardo disse:

    Belíssima matéria amigo. Parabéns!

  3. DOM IMBROISI disse:

    Amigo fraterno Mauro Blanco.
    Parabéns pela matéria.

  4. Muito bom, amigo Blanco!
    Parabéns!
    O homo sapiens e seu processo de subjugar as demais espécies.

  5. Carlos Alberto Azeredo disse:

    Prezado Mauro,
    Suas informações, como sempre muito pertinentes e esclarecedoras, trazem um pouco de luz aos olhos daqueles que, como eu, assoberbados pelas demandas diárias, sequer notam a gravidade de tais ocorrências, que nos passam despercebidas. E é essa luz que pode nos ajudar a trilhar caminhos melhores.

    Parabéns e obrigado!

    • Mauro Blanco disse:

      Muito obrigado, prezado vizinho. Com postagens como essa espero contribuir, pelo menos com uma gotinha no oceano, para transformar o ambiente em que vivemos e melhorar a perspectiva das futuras gerações.

  6. Valéria Maia disse:

    Muito boa essa matéria. Infelizmente, o ser humano está longe de mudar de comportamento. Abraços, Valéria Maia.

Deixe uma resposta para Carlos Alberto Azeredo Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *