2018, ano da virada?

Os festejos de final de ano nunca me deixam para cima. Ao contrário, lembro-me dos que já partiram, da falta que fazem em minha vida. Na verdade, se pudesse sumir por alguns dias, entrar num estado de animação suspensa e afastar-me por completo da agitação fútil e do consumismo hiperexagerado desse período, era exatamente isso o que faria. Procurando ser muito realista, batendo de frente com o jingle que insiste há décadas em dizer que “hoje é um novo dia de um novo tempo”, fora as nossas vidas e a de nossos familiares e amigos, bem como a saúde que ainda nos resta, não vejo muito o porquê de se comemorar tanto. Precisamos muito mais de reflexão do que das comilanças.

Claro que há fatos importantes e benéficos acontecendo, aqui e no resto do mundo, mas infelizmente os noticiários negativos acabam se sobrepondo e ganhando destaque. E não só as manchetes nos trazem uma avalanche de negatividade, principalmente com a corrupção desenfreada e com os palhaços, literalmente, que hoje nos representam respaldados nos votos que lhes concedemos, mas principalmente os relatos próximos, de vizinhos e conhecidos, quando alertam pelo whatsapp os arrastões, os tiroteios, os assassinatos. Alguns, que não têm a prudência de usar aquele secular medicamento conhecido como Semancol, ainda fazem o “favor” de enviar imagens, muitas delas catastróficas e nauseantes, exacerbando ainda mais esse sentimento ruim de insegurança que nos cerca. Ninguém merece!

Quanto ao Brasil, pobre Brasil, vamos remando daquele jeito que todos sabem, com um governante que exibe sem nenhum pudor sua popularidade baixíssima, colaborada pela onda de denúncias, e, mais que isso, evidências cabais de corrupção. Só não vamos pior por conta de alguns resultados interessantes da economia, que procura se descolar cada vez mais da politicagem em voga. No estado federado onde nasci, o hoje falido Rio de Janeiro, assistimos por muitos anos um espetáculo de ilusionismo, patrocinado pelo ex-governador Sérgio Cabral, ainda preso, que nos inebriou por algum tempo, tanto que possibilitou a um de seus comparsas, o abominável Pé Grande de Piraí, a oportunidade de sucedê-lo. Estamos nós, os servidores estaduais ativos e inativos, somados aos pensionistas, passando por um dos piores e mais indignos momentos de nossas vidas, sendo tratados como lixo por gente sem escrúpulos e que não deveria, jamais, estar solta e perambulando por aí. Na capital, onde moro, conhecida em priscas eras como Maravilhosa, seguimos com um alcaide que aparenta eterna sonolência, que mente de forma cínica e que conduz a Prefeitura com incompetência poucas vezes observada em nossa história. Além disso, atualmente está gozando alguns dias de férias nos EUA, mesmo sem poder, pois assumiu (será?) o cargo há menos de um ano. Alguns dizem que ele está pretendendo transformar a municipalidade numa sucursal da Igreja Universal do Reino de Deus. A lamentar…

Quase terminando esta minha escrita, que provavelmente será a última deste inesquecível 2017, quero salientar a todos os meus leitores que o rumo a tomar no próximo ano deve e tem de ser traçado pela nossa sociedade, por nós. Nosso destino está em nossas mãos. Que não sejamos novamente ludibriados. Que possamos ir às urnas no próximo outubro com a convicção de que a mudança que pretendemos alavancar vem, em primeiro lugar, de nossas escolhas. Que o voto finalmente se torne facultativo, como ocorre nas verdadeiras democracias. Que possamos ver o outro com mais amor, com mais carinho e educação, mas que passemos a não tolerar quem destrói nossas esperanças, quem destrói nosso futuro. Que as leis sejam revistas e se tornem mais rígidas, inclusive com a abolição do malfadado e vergonhoso foro privilegiado. Que as discussões maiores não se restrinjam às tão propaladas “reformas”, que em grande parte só beneficiam uma excelentíssima minoria de brasileiros. Que o nosso Tribunal mais elevado deixe de protagonizar tantas asneiras. Que tenhamos mais capacidade e voz para proteger nossas crianças, nossos animais e nossas flora e riquezas naturais. Que passemos a ter orgulho de nossa pátria.

Paz e saúde a todos.

Sobre Mauro Blanco

Sou carioca da gema, morador da Zona Oeste, tricolor, bacharel e mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e servidor concursado da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro. Já atuei como Oficial Temporário no Exército Brasileiro, na Companhia Municipal de Limpeza Urbana (como Subgerente na Gerência de Vetores), na Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro (como Coordenador de Controle de Vetores, Coordenador de Vigilância Ambiental em Saúde e Diretor do Centro de Vigilância e Fiscalização Sanitária em Zoonoses Paulo Dacorso Filho), e na Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais, instância pertencente à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, como Subsecretário.
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5 respostas para 2018, ano da virada?

  1. DOM IMBROISI disse:

    A Pátria tudo se dá, nada se pede em troca nem mesmo o seu reconhecimento….
    Boas Festas amigo!

  2. Sandra Regina Neto disse:

    Meu amigo também sou como vc, não gosto dessa época de festas, além de me trazer certa depressão por tudo que passamos na nossa vida, acho uma tremenda hipocrisia, pessoas que mal se falam durante o ano resolvem nesse dia vir todos amáveis e sorridentes te desejar feliz festas e no dia seguinte voltam à rotina e mal olham para vc. Quanto ao destino do nosso País, estamos nas mão do povo para que façam uma reflexão e vejam o que os políticos de carreira fizeram, fazem e farão se ninguém tomar uma posição. Está na hora de mudar, mas me entristeço quando vejo as pessoas se preocupando mais em encher shows e partidas de futebol, que na maioria das vezes acabam em pancadaria, do que reivindicar o que é seu por direito: saúde, educação, segurança, transporte… Para isso ninguém tem tempo. Deus permita que a mentalidade da população mude porque senão não sei o que restará do nosso país.

  3. DESIREE MENDONCA DE MELLO disse:

    Excelente artigo, principalmente quando faz referência aos “pisoteados” servidores públicos estaduais.

  4. Roberto Guimarães disse:

    Sem mais comentários. Você já disse tudo de uma maneira apropriada e oportuna. Grande abraço.

  5. Edinaldo de Lima disse:

    Muito bom o texto,Mauro! Um perfeito convite a reflexão para aqueles que esperam um 2018 diferente!!!

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